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Vida e Saúde

ANEURISMAS
Diagnóstico e tratamento precoces podem reduzir índices de ansiedade e depressão a longo prazo

Neurocirurgião e neuropsicóloga alertam sobre os impactos dos aneurismas para o cérebro…

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Aneurisma

Os aneurismas cerebrais correspondem a uma das mais importantes causas de mortalidade em todo o mundo. A hemorragia subaracnóidea, que tem como principal fator a ruptura de um aneurisma, equivale a 5% de todos os acidentes vasculares cerebrais (AVC). Esse tipo de acometimento é mais prevalente no sexo feminino, com manifestação entre 40 e 60 anos, afetando o período de maior produtividade dos pacientes. 

“A detecção de aneurismas intracranianos não rotos está se tornando cada vez mais comum, com o avanço da medicina e a utilização de angiografias por TC, RM e subtração digital, que permitem a avaliação detalhada da circulação arterial intra e extracraniana com suas diversas aplicações. Entretanto, existe uma parcela de pacientes que permanecem sem tratamento ou sem avaliação neurológica adequada, o que implica na ocorrência de danos ao cérebro e sérios impactos cognitivos quando acontece a ruptura, como alterações de memória e funções executivas”, explica Dr. Feres Chaddad, Professor e Chefe da disciplina de Neurocirurgia da UNIFESP e Chefe da Neurocirurgia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.    

Diversos estudos têm demonstrado a relação de aneurismas a altos níveis de depressão e ansiedade, déficit cognitivo, instabilidade emocional, distúrbios do sono, síndrome de estresse pós-traumático, entre outros. O estudo clínico Cognitive function, depression, anxiety and quality of life in chinese patients with untreated unruptured intracranial aneurysms”, publicado no Journal of Clinical Neuroscience, apresentou dados importantes sobre a associação de aneurismas não rotos (ainda não rompidos) com consequências neuropsicológicas. 

A pesquisa avaliou a função cognitiva, a incidência de depressão e ansiedade, assim como a qualidade de vida em 31 pacientes chineses com aneurisma não tratado e outros 25 com controles saudáveis, no período de 1 mês, 1 ano e 5 anos após o diagnóstico. Foi identificado que 39% dos participantes seguiram com depressão e 32% pacientes apresentavam ansiedade leve a severa após 5 anos da detecção do aneurisma. Sobre a qualidade de vida, não houve significância ao se comparar ao grupo controle. Já no aspecto da cognição, após 5 anos houve uma diminuição significativa nas habilidades medidas pelo do MoCa em 97% dos pacientes, sugestivo de comprometimento cognitivo leve quando comparados ao grupo controle.

Outro estudo que apresenta dados ainda mais recentes é o Unruptured intracranial aneurysm treatment effects on cognitive function: a meta-analysis”, do Journal of Neurosurgery. O trabalho avaliou pesquisas que relatavam o estado cognitivo de pacientes com aneurismas intracranianos não rotos antes e após o tratamento do aneurisma. As análises consideraram oito estudos (total de 281 pacientes), focando no efeito do tratamento no funcionamento cognitivo geral, com ênfase em 4 domínios cognitivos específicos: funções executivas, memória verbal e visual e funções visuoespaciais.

Como resultado, a pesquisa evidenciou que o tratamento não afetou o funcionamento cognitivo geral, nem significativamente as funções visoespaciais. No entanto, as funções executivas e os domínios de memória verbal tenderam a ter comprometimento pós-tratamento. O desempenho de tarefas de memória visual tendeu a melhorar. Por último, o tratamento não afetou significativamente as funções visuoespaciais. 

“Uma razão potencial para a melhora na capacidade cognitiva funcional após o tratamento dos aneurismas não rotos é o alívio da ansiedade. Antes do tratamento, o paciente se encontra como se fosse uma “bomba-relógio”. Essa ansiedade pode resultar em comprometimentos cognitivos importantes. Por essa razão, o tratamento busca aliviar a ansiedade e melhorar a cognição. Por outro lado, outros danos relacionados ao tratamento, como danos à substância cinzenta ou branca adjacente ou danos às paredes dos vasos sanguíneos, podem contribuir para pequenos déficits no funcionamento cognitivo”

, reforça Feres.

Alterações neuropsicológicas 

Cerca de metade dos pacientes com hemorragia subaracnóidea por ruptura de aneurisma cerebral podem vir a demonstrar sintomas significativos de ansiedade e depressão nos tempos posteriores à hemorragia. Porém, outros fatores de influência também precisam ser considerados, tais como: quantidade de hemorragia, a localização da ruptura e o tratamento adotado. 

“Quando falamos da localização da ruptura do aneurisma cerebral, aquela que ocorre na circulação posterior está associada a quadros clínicos mais delicados, inclusive com índices mais elevados de ansiedade e depressão e demais distúrbios de ordem psiquiátrica. Comparando a sua localização especificamente à artéria cerebral média, pacientes com rupturas do lado esquerdo desta artéria têm piores resultados cognitivos em relação a pacientes com rupturas do lado direito”, completa Feres. 

Subnotificação de danos neurológicos e necessidade de acompanhamento global

“A desatenção aos sintomas neurológicos leves e intermediários, a dificuldade do acompanhamento de pacientes e grupos de risco que não acessam o sistema de saúde e a falta de atendimentos integrais que observem os impactos na saúde de maneira específica, mas abrangente, é ainda um grande desafio. Parte desses pacientes podem apresentar manifestações neurológicas e psicológicas tardias e ter seu processo terapêutico impactado. Por isso, é fundamental estabelecer o perfil cognitivo dos indivíduos atendidos, tanto antes, quanto após o tratamento, para que haja orientação neuropsicológica e indicação de processos de reabilitação que contemplem as necessidades e déficits apresentados”, reforça Dra. Daniela Coelho, Psicóloga da Saúde e Neuropsicóloga – CFP, Especialista em Neurologia e Neurocirurgia – UNIFESP e Mestre em Neurologia e Neurociências – UNIFESP/ 

Implementar centros de triagem neurológica em hospitais e postos de atendimento é urgente. O acompanhamento longitudinal, com equipes multidisciplinares e check-ups médicos regulares, é fundamental para os pacientes com aneurismas. Incluir avaliação neurológica para examinar vários domínios cognitivos pode identificar alterações neurológicas, de maneira precoce, e assim trabalhar na redução da incidência de danos graves e riscos futuros.