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Entre o início e o fim, por fim, o meio!

Professora de Ibotirama escreve emocionado ensaio sobre o poema Águas do Oeste Baiano, de Roberto de Sena…

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Entre o início e o fim, por fim, o meio!

Por Elta Mineiro*

Seus escritos, nos fazem mergulhar na geografia parideira de rios e acordar com uma história bem contada, que significa muito mais do que as ações de ler ou ouvir. Contou e encantou, tecendo fio a fio palavras finas, rebuscadas que envolvem não somente o singular pois excede a pluralidade do que é belo. Buscou a essência de Manoel de Barros (a quem devemos muito), pensamentos e fatos além que vão além do singelo, do simples, do incomum…Palavras escritas que tem gostos florais, aromas de raízes, troncos, cascas, folhas e espécie das muitas espécies das que temos e das que já não temos. Ao ler me remete a visão de barrancas que se estendem por todo oeste baiano da forma mais caudalosa possível em um mergulho infindável capaz de embevecer qualquer ser.

É muito bom ler seus versos, escorregar nas “maretas” de todas as entrelinhas, beber cuidadosamente o néctar que ora escorre de suas estrofes. Foi possível sentir a florescência das sementes, o germinar do querer numa profusão de alegrias e encantos que culmina numa distração equidistante do sentir e do querer. Viajamos na suavidade envolvente, ainda que tortuosa das águas que correm e escorrem vista pelos olhos de quem debruça-se pela expressão da produção.

É uma essência tão profunda, que deixa latente nossas expressões de espanto, admiração por algo além do belo, uma carícia que envolve todos os nomes de rios e desce nosso corpo, adentrando na alma, causando arrepios. Já não sabemos se estamos acordados ou sonhando, apenas embevecidos. Para cada trecho de águas, uma música que nos banha, um sonho que nos envolve na suavidade do rio que canta e escorre. Nada nos faz mudar o curso que ora estamos, absolutamente nada, porque a melodia nos transporta para uma viagem além do tempo, uma viagem sem hora para chegar e muito menos para voltar…São passeios infindos por grotas, gretas, e desenhos de folhas, lajes e lajedos de cores, de poesias… A imaginação se solta nos permitindo sentir o gosto azedo do buriti, o sabor suave dos acicis, as veredas, varandas, verdades de um caminho que não se acaba, que sobe e desce dos jatobás, pajeús, ingás, murici, mari, margaridas que abrandam a vida.

Assim, somos peixes e saboreamos a cor barrenta de cada água trazida pela chuva que nos banha de paz e harmonia. Em cada morro um traço morno de sol, uma luz tímida que se apresenta por finas frestas nas arestas de todos os rios. Os espelhos são de águas, são lagoas e açudes, são poemas e poesias que respiramos quando se trata de rumos. Somos guiados pela curiosidade, pela raridade de tão perfeita descrição quando se fala de rio, os esgotos parecem desaparecer, mas nas linhas lá estão todos eles para nosso desgosto, bem como na verdade, nos rios, nos seus escritos, nos seus olhos… Ainda assim, não o sentimos, porque a “envolvência”, a beleza do texto não nos permite. Sejamos riachos para desaguar em fontes tão desejadas, para jorrar, esguichar línguas e palavras, verbos e versos da forma mais pura e casta possível.

Entre o início e o fim, por fim, o meio!
Professora Elta Mineiro

Um mergulho em seu rio de palavras, Sena, é algo tão nobre, tão envolvente, cativante que chega a ser delicado, um terreno fértil, porém, terno e fica abusadamente difícil não tecer comentários acerca de tão pura e rara beleza. Viajamos noites e dias nos céus e sóis, nas pétalas e meiguices de todos os termos poéticos utilizado no decorrer do texto e nos remetemos para tantas histórias de nego d’água, aparadeiras que continuam aparando vidas, para os “inguentos” que curam, assim como as garrafadas e as benzeduras.

Já não sabemos diante de tudo que vimos se ainda somos gente, nos transportamos para a essência, para a profundeza das águas que brotam de suas expressões que não são simples, porém de uma singularidade inconfundível. Por mais que não esperamos, impossível não embevecer com tamanha descrição de algo tão precioso, um bem tão maior, tão raro, além do que imaginamos. São versos categóricos, com formas e expressões determinantes que determinam veias e veios do rio que escorrem em cada ser, em cada palmo de chão, em cada riso, em cada fenda, em cada boca, sob todas as luas.

Abrimos nossos olhos, porém para louvar toda sua ode incomum e insólita, rara. Se Thiago de Mello escreve o que o comove, você sempre nos envolve, nos impressionando com muita maestria. Deixamos então, nossos barcos navegarem entre versos e canções, apalpando a geografia, desfiando toda história e sempre lembrando que suas palavras são como águas descendo grotões, embevecendo a sede interminável da poesia que contagia, influencia, e dá direcionamento aos pensamentos num misto de conhecimento e emoção.

Das águas que se tornam poesia estão os fatos que nos irradiam pois, para compreensão do Oeste baiano a imersão na realidade excede a própria particularidade local. Que mais palavras sejam escritas a fim de contemplar a incontestável história de um lugar.

* Elta Mineiro, mulher, mãe, pintora, poeta, professora, pescadora de sonhos, natural do Boqueirão (Zona rural de Ibotirama). “Lancei um livro no ano passado, porém não me considero escritora”.

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