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Após 23 anos de sua morte, cresce devoção por Irmã Dulce

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Jorge Gauthier | Correio24h

Quatro anos após beatificação, as Obras Sociais de Irmã Dulce já receberam mais de 8 mil relatos de graças atribuídas à Dulce

Osvaldo Lima é devoto de Irmã Dulce e atribui a ela a melhora da sua saúde após um tumor no intestino. Hoje, ele mantem  perfil no Facebook dedicado à Dulce | Foto: Mauro Akin Nassor

Osvaldo Lima é devoto de Irmã Dulce e atribui a ela a melhora da sua saúde após um tumor no intestino. Hoje, ele mantem perfil no Facebook dedicado à Dulce | Foto: Mauro Akin Nassor

No dia 14 de março de 1992, o som das ruas da Cidade Baixa, em Salvador, eram do Hino ao Senhor do Bonfim misturado com o lamento pelo enterro de Irmã Dulce. Neste dia, o então bancário Osvaldo Lima trabalhava no bairro do Comércio e se impressionou com a multidão. “Ainda não era devoto de Irmã Dulce naquela época, mas lembro que fiquei emocionado com a quantidade de gente que estava lá para se despedir dela. Era uma multidão”, recorda.

Um dia antes, quando ela morreu, ele manteve em sua casa uma vela acesa, orou e solicitou orações de seus familiares pela admiração que tinha pela religiosa. Ele só não sabia que a admiração ia virar milagre em sua vida.

Treze anos depois, em janeiro de 2005, a devoção de Osvaldo – que também atuava como corretor de imóveis – se transformou em realidade quando foi acometido por um tumor maligno no intestino e pediu a intercessão pela sua cura à freira baiana.

“Eu estava internado no Hospital Português e iria fazer uma cirurgia no dia seguinte por conta de uma infecção. Minha irmã pediu que o monsenhor Gaspar Sadoc (ex-pároco da igreja da Vitória, em Salvador) que rezasse por minha vida. Ele rezou e pediu ajuda de Nossa Senhora. Mas, na hora que ele fez a oração eu só conseguia pensar em Irmã Dulce.

No dia do enterro de Irmã Dulce, em 1992, multidão de devotos tomou as ruas da Cidade Baixa, em Salvador | Foto: Claudionor Junior/Arquivo Correio

No dia do enterro de Irmã Dulce, em 1992, multidão de devotos tomou as ruas da Cidade Baixa, em Salvador | Foto: Claudionor Junior/Arquivo Correio

No dia seguinte, o médico cancelou a operação pois eu estava curado. Foi Irmã Dulce”, acredita Osvaldo, que ficou internado 18 dias no Hospital Português. Hoje, aos 62 anos, ele já está aposentado e ainda cuida da saúde. Nas horas vagas, mantém no Facebook um perfil com o nome sugestivo de “Devoto Irmã Dulce”, onde divulga fatos, relatos e histórias sobre Irmã Dulce.

“Não sou um carola de igreja e sim uma pessoa que admira e tem muita gratidão e devoção por Irmã Dulce”, relata. Osvaldo não está sozinho. A devoção pela freira baiana, que dedicou mais de 50 anos de sua vida ao amor ao próximo, cresce a cada dia.

Dados das Obras Sociais Irmã Dulce (Osid) indicam que só desde o dia 10 de dezembro de 2010, data da assinatura do decreto de Beatificação da Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, pelo Papa Bento XVI, chegaram mais de 8 mil relatos de graças atribuídas à Dulce vindos de todos estados brasileiros e diversos países do mundo.

“Atualmente, existem dois relatos que chamaram a atenção dos peritos e que estão sendo examinados. No entanto, no intuito de preservar as famílias de pressões prematuras e seguindo orientação do postulador, não podemos revelar o provável miraculado (nome que se chama quem é alvo de um milagre reconhecido pelo Vaticano), bem como o local onde ocorreu o fato”, explica Maria Rita Pontes, superintendente das Osid.

Arcebispo de Salvador, Dom Murilo, ressalta que Irmã Dulce merece admiração pela sua história de fé | Foto: Arquivo

Arcebispo de Salvador, Dom Murilo, ressalta que Irmã Dulce merece admiração pela sua história de fé
| Foto: Arquivo

Os casos que estão sendo analisados compõem o processo de canonização do Vaticano que investiga se eles são, de fato milagrosos. Se confirmado, o Vaticano irá conceder à Dulce o título de santa da Igreja Católica. Mas, para muitos fiéis, o título de santa reconhecido pela Igreja é um mero detalhe.

“Para mim ela já é santa há muito tempo. Era santa desde que nasceu e se dedicou a cuidar de tanta gente que precisava. Isso era ser santa”, argumentou a aposentada Eva Andrade, de 58 anos, que sempre vai à Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Mãe de Deus (Santuário de Irmã Dulce), no Largo de Roma, para rezar junto ao túmulo da freira baiana.

“Nesse lugar eu sinto mais forte a presença dela”, destaca Eva que, assim como muitos fiéis, deixam diariamente fotografias e relatos de graças junto ao túmulo de Dulce.

Salvação
Foi nesse lugar que um empresário sergipano, de 27 anos, que prefere não ter o nome divulgado, sentiu que Dulce fez um milagre na sua vida.

“Sempre fui muito cético, apesar de ser católico. Em 2014 descobri que estava com um tumor nas costas. Fiz diversos exames e o resultado deu que era malígno. Na véspera da cirurgia fui ao túmulo de Dulce e fiz uma oração. Foi uma conversa onde pedi que ela intercedesse pela minha saúde. Me operei, retirei o tumor e para surpresa dos médicos o resultado da análise do tumor é que era benigno. Os médicos repetiram os exames três vezes e em todas deu que era benigno. Não tenho dúvidas que houve uma mão de Dulce para reverter esse diagnóstico”, afirma o jovem.

Legado
O arcebispo de São Salvador da Bahia e Primaz do Brasil e vice-presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), Dom Murilo Krieger, destaca que Irmã Dulce será sempre lembrada como uma discípula que imitou a predileção de Jesus pelos mais pobres e abandonados.

Túmulo de Dulce recebe diariamente fotos e pedidos de oração | Foto: Mauro Akin Nassor

Túmulo de Dulce recebe diariamente fotos e pedidos de oração | Foto: Mauro Akin Nassor

“Nunca me encontrei com Irmã Dulce. Se imaginasse que, um dia, seria nomeado Arcebispo de São Salvador da Bahia, teria dado um jeito de vir conhecê-la. Tenho uma irmã que veio aqui com seu marido duas vezes; nos dois momentos foram se encontrar com ela e com ela conversaram. Depois disso, falavam sempre com muito carinho e admiração desta mulher que, segundo testemunhavam, tinha um olhar doce e penetrante…”, resume.

A manutenção do legado de Dulce, segundo Maria Rita, é um desafio para que haja uma devoção contínua e manutenção da história do Anjo Bom da Bahia.

“Todos nós – a família, os conselheiros das Osid, as religiosas da congregação a qual Irmã Dulce pertenceu e as religiosas do instituto que ela criou, os capuchinhos que nos dão assistência espiritual, e os profissionais e voluntários que trabalham nas suas Obras – somos responsáveis em manter vivo o seu legado de Amor. Mas, precisamos comprometer toda a sociedade para que nos ajude a dar continuidade a sua missão e fazer com que as crianças e jovens conheçam a vida e a obra de Irmã Dulce e se inspirem em seus valores éticos, morais e cristãos”, diz.

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