Tecnologia
Robôs sexuais que simulam estupros: uma aberração tecnológica e social
Explore os riscos e as controvérsias em torno dos robôs sexuais que simulam estupros e o impacto dessa tecnologia na sociedade.
Robôs sexuais que simulam estupros | Foto: internet / Divulgação
Tecnologia– Os robôs sexuais que simulam estupros trazem à tona uma grave problemática que vai muito além do avanço tecnológico. Por décadas, a indústria do sexo tem explorado sexdolls para simular relações sexuais, desde bonecas infláveis de plástico com aberturas genitais até bonecas super-realistas de silicone. A mais recente “evolução” são os robôs com “personalidade”, uma inovação que esconde profundas questões sobre a objetificação da mulher e a apologia à violência e ao estupro.
Adoecimento das Relações Sociais e Objetificação da Mulher
No início de julho, o jornal O Globo dedicou uma reportagem ao fenômeno, especialmente no Japão, de homens que se “casam” com bonecas hiper-realistas. Não só fazem sexo com elas, mas também saem para passear e “conversam”. Esses homens acreditam ter encontrado a cura para a solidão moderna.
Entretanto, longe de ser uma verdadeira cura para a solidão, essas bonecas indicam uma sociedade doente onde o contato humano e a partilha da vida são substituídos por algo artificial que não sente nada. As mulheres reais, trocadas por essas bonecas, denunciam como ficam limitadas aos trabalhos domésticos, ao jantar, à limpeza e à roupa. Essa tal cura da solidão masculina está longe de emancipar as mulheres e não resolve a solidão dos homens que buscam companhia em seres inanimados.
Capitalismo e Violência Machista
O capitalismo, sem limites, aproveita-se inclusive da violência machista para lucrar mais. A produção de bonecas cada vez mais realistas levou a empresa norte-americana Roxxxy True Companion a criar robôs com personalidades distintas que simulam desde uma adolescente sexualmente inexperiente até reações diante de um estupro. A boneca “Jovem Yoko” simula uma adolescente ingênua, sugerindo uma relação pedófila, enquanto a “Frigid Farrah”, ao ser tocada nas partes íntimas, reage negativamente, simulando uma relação não consensual, ou seja, um estupro.
A ideia do fabricante é que, assim, os homens poderiam realizar suas fantasias mais secretas sem que mulheres reais ou adolescentes estejam em perigo. Contudo, essa premissa é profundamente problemática. A boneca “Frigid Farrah” reforça o termo pejorativo “frígida”, insinuando que a resistência feminina é algo a ser superado. Isso perpetua a ideia de que o desejo sexual masculino justifica a violência, mesmo que seja com um robô, pois a boneca é feita para parecer uma mulher real.
Ameaça Real: Robôs e a Normalização do Estupro
Estudos, como o da Fundação pela Responsabilidade em Robótica, alertam para os perigos dessa tecnologia. O pesquisador Noel Sharkey destaca que várias companhias produzem e vendem esses robôs, chamando atenção para a necessidade de vigilância. Alguns argumentam que é melhor que estupradores simulem suas ações em robôs ao invés de pessoas reais, mas essa lógica é falha e perigosa.
Laura Bates, fundadora do projeto Everyday Sexism Project, é enfática: “O estupro não é um ato de paixão sexual. É um crime violento. Não devemos encorajar estupradores a encontrarem uma saída supostamente segura, assim como não facilitaríamos experiências realistas de assassinato com bonecos que simulam sangramento ao serem esfaqueados”.
A comparação de Bates é crucial. Seria chocante ver uma simulação tão realista de um assassinato, então por que normalizar a simulação de um estupro? A “Frigid Farrah” fetichiza o estupro e sugere que o desejo de estuprar faz parte das fantasias secretas de todos os homens, algo que é uma construção do patriarcado, não um instinto natural.
Combate ao Patriarcado e ao Lucro Capitalista
A única segurança verdadeira para as mulheres é o combate ao patriarcado e ao sistema capitalista que usa a opressão de gênero para lucrar. Cada boneca dessas custa cerca de R$40 mil, evidenciando que o estupro se torna uma função do lucro dos capitalistas, sem qualquer preocupação com a vida das mulheres.
Os robôs sexuais que simulam estupros não são apenas uma aberração tecnológica; são um reflexo de uma sociedade que ainda não superou a objetificação e a violência contra a mulher. É urgente uma reflexão crítica e ações concretas para impedir que essa tecnologia perpetue a violência e a desumanização.
Redação site on *com informações de Esquerdadiario
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