Siga-nos

Sem categoria

Dilma vilã, demais políticos anistiados

Publicado

em

01

Domingo passado foi um dia histórico no país. Milhares de cidadãos, guiados pelo desejo de mudança, tomaram as ruas de capitais e cidades do interior de vários estados, bradando pelo fim da corrupção e pela saída da presidente Dilma do poder.

Na sexta-feira, o PT tinha conseguido levar para as ruas uma quantidade muito menor de pessoas, mobilizando a CUT, o movimento sem terra, a união dos estudantes e outros grupos sindicais ligados ao partido ou ao governo.

A primeira questão que precisamos atentar é a simbologia dos movimentos. Enquanto a manifestação petista inundou ruas com o vermelho, que vem sendo rejeitado pelas pessoas, a manifestação de domingo valorizou nossas cores e bandeiras, buscando mostrar que existe um país acima de interesses partidários.

Nós já tínhamos visto manifestações dessa dimensão em 2013, quando muita gente ocupou as ruas do Brasil exigindo o fim da corrupção. Mas existem algumas diferenças entre os protestos de 2013 e os que ocorram domingo. Em 2013, o clamor popular era dirigido a todo e qualquer político. As pessoas foram às ruas reclamar por um país mais limpo, atacando siglas partidárias diversas e impedindo a participação de políticos nos atos de cidadania. Alguns deputados e senadores que tentaram capitalizar para si as manifestações foram fortemente criticados por pessoas que lutavam pelo fim da corrupção e pela moralização da política, independentemente de legenda.

Mas agora o discurso do povo mudou!

As manifestações de domingo se seguiram após uma eleição disputada, na qual Dilma ganhou com uma frente muito pequena de aproximadamente 3 milhões de votos. E em um momento político de desgaste da Presidente com o Congresso. Esses fatores fizeram com que eleitores de Aécio conseguissem se mobilizar mais facilmente (porque ainda se encontram no clima da campanha política recente) e contagiassem alguns eleitores de Dilma insatisfeitos com as recentes medidas econômicas. Assim, não foi difícil conseguir aliar a imagem da presidente à “personificação” da corrupção e mazelas do país.

Essa é a principal característica que diferenciou 2013 de 2015: dessa vez, as pessoas escolheram seus vilões: Dilma e o PT. No domingo, o povo esqueceu dos milhares de bandidos que destroem prefeituras, câmaras de vereadores, secretarias municipais e estaduais em todo o país… e focaram numa personagem: a presidente.

Se por um lado a manifestação de domingo tem o mérito de mostrar o engajamento popular, tem o gravíssimo demérito de dar um salvo conduto a milhares de políticos pelo país, que se sentem agora muito confortáveis bradar contra a corrupção (sem que isso se coadune com suas ações e trajetórias políticas).

Sem cartazes com outros nomes de políticos e aceitando creditar todas as mazelas do país na conta do PT, o povo terminou anistiando Renan, Collor, Eduardo Cunha e mais uns 400 corruptos que se encontram no Congresso. Como a Câmara dos Deputados e o Senado não foram alvo das manifestações, opositores oportunistas ganharam espaço e expandiram suas possibilidades de pressionar Dilma e chantagear para obter mais cargos e conseguir a votação de matérias do seu interesse. E o povo vai ser a moeda de troca.

Daniele Barreto é advogada, colunista e escreve no blog www.danielebarreto.com.br

Veja o vídeo:

02