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Wagner errou ao escolher João Leão, diz Marcelo Nilo

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Biaggio Talento | Atarde

Marcelo Nilo, presidente da Assembleia Legislativa da Bahia | Foto: Lúcio Távora | Ag. A TARDE

Marcelo Nilo, presidente da Assembleia Legislativa da Bahia | Foto: Lúcio Távora | Ag. A TARDE

Tendo que engolir um sapo do tamanho do deputado João Leão (PP), que o derrotou na disputa pela vaga de vice do candidato a governador Rui Costa, do PT, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Nilo, se diz injustiçado pela decisão e tenta reatar as relações políticas com o governador Jaques Wagner. Nilo pretende disputar a reeleição de deputado estadual e não afasta a possibilidade de tentar novamente renovar seu mandato de presidente do Legislativo.

Se o senhor fosse o governador Wagner e tivesse dois aliados, um mais fiel, como Marcelo Nilo, e outro como João Leão, não seria menos traumático para a aliança contrariar o mais fiel, escolhendo Leão como vice?
Acho que um dos motivos que ele escolheu Leão foi justamente pelo fato de me considerar um amigo e ter a certeza absoluta de que eu não mudaria de lado. Suponho que a decisão foi ele achar que o amigo nessa hora tem que se sacrificar.

E ele estava certo?
Creio que ele estava errado. O escolhido teria que ser aquele que reunisse as melhores condições políticas. Modéstia à parte, acho que eu reunia. Tive apoio de todos os aliados, sem exceção. Aí você tira o PSD de Otto Alencar, que era candidato e não iria se meter (na escolha) e o PT. Tive o apoio de 22 federais em 26 possíveis, de todos os 63 estaduais e reuni todas as condições políticas para exercer o cargo de vice, mas…

Essas forças todas que o apoiaram reagiram de que forma com a escolha do governador? Vão trabalhar sem suar a camisa pela eleição da chapa Rui Costa/João Leão? Não creio que as forças políticas vão reagir a esse ponto. Eles preferiam Marcelo Nilo, mas respeitaram a decisão do governador.

E na opinião do senhor, foi uma decisão equivocada?
Sim. Porque se eu fosse o vice seria escolhida a chapa mais forte. Eu aceitava qualquer critério político: pesquisa, conselho político, conhecimento, quem tivesse mais relações. O critério que ele usou foi matemático.

Por que considera seu peso político maior que Leão?
Tenho uma força maior. Só conheço uma liderança política do nosso lado que sugeriu João Leão, o vice-governador Otto Alencar. Estou dizendo isso porque o próprio Leão deu entrevistas dizendo que Otto o incentivou a ser o vice. Reafirmo: acho que foi uma decisão equivocada.

E o governador pediu desculpa por essa, digamos, desfeita ao amigo?
Não. Em nenhum momento o governador me garantiu que seria eu. Não me considero traído. Me senti injustiçado. Conversei diversas vezes e ouvi que ele estava trabalhando para mim. Ora, se ele trabalhou para Rui e fez Rui, se estivesse trabalhando realmente para mim, seria eu. Apenas ele considerou que um amigo não reagiria como eu reagi.

Ou como Leão reagiria caso não fosse o escolhido?
Ora, Leão foi a Eduardo Campos com todo o PP.

Por isso o senhor chegou a usar a palavra “chantagem”…
Não vou dizer chantagem, mas quem é do mundo político sabe que, com as visitas políticas que fez a Campos quis dizer: se não for do PP nós não apoiaremos (Rui). Aliás. No sábado antes da decisão sobre o vice, em Santa Brígida, o discurso de Mário Negromonte foi prático. Disse que se não fosse o escolhido eles não apoiariam. Meu discurso foi diferente. Disse que apoiaria independentemente de ser vice.

Como será a convivência do senhor com o PP na campanha com esse clima?
Primeiro que eu não decidi ainda quem vou apoiar. Estou ouvindo meus prefeitos, meus vereadores, meus amigos, conselheiros, meu partido para tomar uma decisão. E seguirei a decisão partidária, mas temos que aguardar um pouco.

O presidente nacional do PDT Carlos Lupi protestou muito com a escolha do PP. É que ele também acha que o PDT é maior que o PP. Por que?
Eles elegeram quatro federais, nós também; eles elegeram cinco estaduais, nós também. Eles tem 54 prefeitos, nós 45, ou seja nove de diferença. Nós temos um senador da República e o presidente da Assembleia Legislativa. A pergunta é clara: um senador e um presidente do Legislativo não valem mais que nove prefeitos? Creio que sim.

Num evento recente, o senhor e o governador Wagner pareceram que fizeram as pazes… Eu acredito que os dois estão trabalhando no sentido de se reaproximar pessoalmente. Não é um acidente que vai interromper uma trajetória de amizade.

Mas arranhou?
Óbvio que arranhou politicamente, pois me sinto injustiçado, agora, as relações pessoais estamos fazendo um esforço, acredito, para superar. Nas minhas veias corre sangue, realmente me sinto injustiçado. Estou refletindo, esperando baixar a poeira para tomar uma decisão política.

O senhor vai se candidatar a deputado estadual?
Chegou a ser negociado que o senhor iria assumir novamente a presidência da Assembleia? Sou candidato a deputado estadual. Ficamos de sentar eu, Wagner e Rui Costa para ver se chegamos a um acordo político.

Soube que Rui Costa chegou a lhe oferecer novamente a presidência do Legislativo.
Não, nunca conversei com ele sobre isso.

O senhor já estava com campanha montada para a majoritária?
Me preparei para ser candidato a governador. Dei 1.350 entrevistas no interior, percorri, só no ano passado, 204 municípios, conversei com empresários, com representantes da sociedade. Óbvio que não criei as condições objetivas, um arco de alianças suficiente.

Mas o senhor não acha que, no caso do candidato ao governo do Estado, havia uma carta marcada com o nome de Rui Costa?


Claro que eu sentia que a preferência do governador era por Rui. Mas se eu tivesse criado as condições políticas, acredito que poderia ser o escolhido. Não criei essas condições porque de um lado estavam Geddel (Vieira Lima) e Paulo Souto batendo no governo, no outro o candidato do governador Rui Costa defendendo. Um marqueteiro me disse: pra você crescer vai ter que bater no governador. Preferi não crescer nas pesquisas para manter minha coerência política.

Se o senhor for reeleito deputado estadual isso o transforma num candidato forte à presidência do Legislativo. Pretende disputar?
O futuro a Deus pertence.

O projeto extinguindo a reeleição de presidente da Assembleia foi engavetado?
Levei duas vezes ao plenário e os deputados não quiseram (aprovar). Então, é assunto encerrado.

Por que o senhor e seus colegas querem processar o radialista Mário Kertész?
Vocês entendem que houve calúnia? Ele simplesmente cobrou a divulgação da lista dos servidores da Assembleia. Ele me pediu, numa entrevista, a lista e eu prometi que levaria. Mas depois ele começou a ofender o Poder Legislativo.

Mas chamou os deputados de corruptos ou ladrões?
Chamou 63 “sacanas” e que aqui está um “esquema de corrupção”. Então 62 deputados decidiram processar o jornalista Mário Kertész. Deveremos dar entrada nessa segunda nesse processo.

Não lhe parece uma empreitada difícil, já que vocês vão estar brigando com a imprensa…
Não estou mexendo com a imprensa. Você sabe o respeito e a admiração que tenho pela imprensa da Bahia. Ele ofendeu o Poder Legislativo baiano. Ele não me deu outra alternativa, de processá-lo. Eu defendo a liberdade de imprensa, o contraditório, agora se a pessoa ofende no grau que ele ofendeu só recorrendo à Justiça.

E que pressões o senhor está sofrendo, se é que está, para não divulgar essa lista de funcionários?
O radialista Mário Kertész nunca pediu. A partir da correspondência dele com base na Lei da Transparência – assim como o jornal A Tarde já recebeu com base na mesma lei – darei a lista. Qualquer cidadão baiano que pedir pela Lei da Transparência eu dou. Agora você pedir, ofendendo o Legislativo Baiano não é a Lei da Transparência.

O senhor acha que o político fala demais?
Digo isso porque primeiro o senhor declarou que não abria mão da candidatura de governador, depois disse o mesmo do vice e nada se concretizou… Fala. Nenhum candidato a governador admite que quer ser vice. Eu realmente queria e trabalhei para ser candidato a governador. Óbvio que valeu a pena. Sabe por que? Hoje sou conhecido por 75% da população da Bahia. Valeu a pena conhecer os problemas da Bahia, percorrer todo o Estado. O projeto de ser governador não deu resultado favorável mas mostrou a nossa força política. Não perdi nada nessa campanha.

O senhor espera uma eleição difícil, disputada para o governo do Estado?
Vai depender muito da conjuntura nacional. Eduardo Campos (candidato do PSB à presidência) na Bahia está com 4% nas pesquisas. Aécio Neves (candidato presidência do PSDB) com 9% e Dilma Rousseff (PT) com 58%. Isso vai ter influência no Estado. O candidato a presidente puxa muito o candidato a governador. Se tiver um candidato à presidente fraco, dificilmente você cresce. Lídice é que vai puxar Eduardo na Bahia e não o contrário. Paulo Souto se for candidato é que vai puxar Aécio. Já no PT é o contrário: Dilma, Jaques Wagner e Lula é que vão puxar Rui Costa.

Qual a diferença das campanhas de governador e deputado que agora o senhor vai ter que encarar?
É completamente diferente. Para governador a gente aparecia na mídia, recebia título de cidadão (nos municípios), eu criava fatos políticos. Na eleição proporcional é preciso dar mais atenção ao eleitor, tem que fazer muito corpo-a-corpo. Vou partir agora para a campanha de deputado.

O senhor não assumiu o governo do Estado nessa ausência de Wagner porque não quis – já que pela lei, podia até ser governador até a sexta, dia 4 – ou houve algum problema?
Nenhum problema. Foi uma deferência ao desembargador Eserval Rocha, presidente do Tribunal de Justiça. Como já assumi cinco vezes, era uma oportunidade dele assumir.