Siga-nos

Barreiras

Com cultura do machismo, estupro é sempre culpa da mulher

Ao falabarreiras, advogada Nayanne Lis Pereira de Novais Oliveira explica como combater a cultura do estupro

Publicado

em

Tanto o alto número de casos registrados quanto os subnotificados revelam uma triste realidade: o Brasil tolera e incentiva o estupro a ponto de poder afirmar que o crime faz parte da cultura brasileira. Uma cultura do machismo, que não ensina homens a respeitar as mulheres e a identificar o que é ou não estupro, traz consequências seríssimas para a segurança feminina.

De acordo com a advogada Nayanne Lis Pereira de Novais Oliveira, essa palavra surgiu pela primeira vez na década de 70 em um livro, época da chamada segunda onda feminista, para apontar comportamentos tanto sutis, quanto explícitos que silenciavam ou relativizavam a violência sexual contra as mulheres. Nesse livro apontava que há um apoio velado conferido e naturalização dessa agressividade masculina associado a uma ideia de que as mulheres devem se “comportar adequadamente” (roupas, não andar sozinha, não viajar sozinha, não ir a restaurante sozinha, não pegar taxis, uber sozinha), situação esdrúxula que formam a cultura do estupro.

Será mesmo que existe uma cultura que influencia o estupro de mulheres no Brasil? O termo cultura do estupro veio à tona após a enorme repercussão de um caso grave de estupro coletivo ocorrido no mês de maio de 2016, e mesmo assim, para muitas pessoas, falar sobre isso é “MIMIMi”, “mas vamos lembrar sempre que: NÃO É NÃO, mulher não é objeto, ela não pediu isso e não ao assédio nas ruas”, reforça Nayanne.

Passados essa introdução breve da história, é importante falar da tendência social de culpabilização das vítimas de estupro, o que significa que uma parcela da sociedade comumente considera mulheres vítimas de estupro culpadas por terem sofrido a violência sexualEssa culpabilização muitas vezes se fundamenta em princípios de moral, religião e bons costumes. Desse modo, os indivíduos que culpam a mulher por ser vítima, alegam que o estupro não ocorreria caso ela tivesse comportamentos diferentes, usasse outras roupas, frequentasse ambientes diferentes, entre outras coisas.

Olha esse dado assustador: em pesquisa encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), o Datafolha evidenciou que mais de 33% das pessoas responsabilizam a mulher por sofrer estupro, ou seja, um terço da população brasileira. 

“Vale ressaltar ainda que nós temos que passar pela Cultura da não denúncia, o que seria isso?  Grande parte das mulheres não denunciem estupros e outras espécies de violências. Isso porque existe um grande descrédito e tratamento insensível quanto a essas denúncias. Na delegacia já começamos a ser julgadas, muitas vezes por delegadas, nem preciso citar os homens, com perguntas descabidas como: estava sozinha? Que roupa usava? Mas ele não era seu companheiro? Você provocou? Por que ele fez isso?”.

Conforme a advogada, o machismo é um dos problemas mais debatidos na sociedade contemporânea, trata-se de uma forma de sexismo na qual a discriminação tem como preceito o sexo ou gênero das pessoas. O machismo é a ideia de que existem distinções entre homens e mulheres, o que, por consequência, diferencia os dois grupos e torna os homens superiores – entendendo que esses são mais racionais, fortes e objetivos, enquanto as mulheres seriam o oposto, e antes que alguém pense que feminismo existe para diferenciar e elevar a mulher ao nível maior que a do homem não, o feminismo é uma luta de emancipação da mulher de termos nossa livre escolha.

Essa estrutura machista é que torna possível que haja a objetificação da mulher, a qual está enraizada na sociedade brasileira e perpetua a cultura do estupro. Essa objetificação se manifesta de diversas formas, como na divulgação de fotos e vídeos íntimos. Por ser um assunto muito extenso, devo deixar aqui a ideia de como Combater a cultura do estupro. No atual momento que vivemos é ideal estarmos atentos a toda e qualquer atitude cotidiana que agride a liberdade sexual da mulher. As duas palavras-chaves que auxiliam nesse processo são: consenso e respeito” esclarece Nayanne.

Por fim, é importante compreender de uma vez por todas que a mulher não é um objeto a ser apreciado onde quer que esteja, ela não é um enfeite para vender produtos ou para ser mostrado para as pessoas, ela não é obrigada a satisfazer vontades sexuais das quais ela não compartilha. “A mulher livre é a mulher que não teme e o feminismo luta diariamente para isso”, conclui a advogada.