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O Trauma à luz da Psicanálise

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O trauma também está relacionado às perdas precoces, incluídas a da perda do amor da mãe ou de outras pessoas significativas substitutas da mãe. Os traumas psicológicos podem relacionam-se, ao estado de desamparo.

-01Segundo Laplanche e Pontalis (2001) o trauma corresponde a um acontecimento da vida do sujeito que pode ser definido pela intensidade, e pela indefesa do sujeito para reagir a ele de forma conveniente, pelo transtorno e pelos efeitos patogênicos duradouros que provoca na organização psíquica.

O conceito do trauma segundo Zimerman (2001), está mais diretamente ligado a fatos externos reais, que sobrepujaram a angústia e a dor psíquica que eles provocaram. A repercussão dos traumas no psiquismo da criança é proporcional à precocidade de seu estado de inermia. Assim, utilizando uma metáfora significativa, compara as consequências de um trauma ao de uma “agulha num organismo desenvolvido é inofensivo, porém se for numa massa celular no ato da divisão celular, promoverá uma profunda alteração no desenvolvimento daquele ser humano em formação”.

A noção de trauma conserva a ideia de que se trata de um conceito essencialmente econômico da energia psíquica: uma frustração em face da qual o ego sofre uma injúria psíquica, não consegue processá-la e recai num estado no qual se sente desamparado e atordoado. A angústia excedente também pode escoar-se através de sintomas corporais que caracterizam a neurose atual. As separações traumáticas, a ausência da mãe ou substituta, enquanto continente que acolhe e dar suporte emocional à criança, pode contribuir para as ansiedades futuras na vida do sujeito.

A teoria de Ferenczi sobre trauma parte do suposto da situação de violência sexual a que a criança pode ser submetida por adulto. A criança ao brincar com um adulto tem um propósito lúdico, com suas fantasias presentes, sendo um movimento prazeroso, no qual a genitalidade está ausente. Esse movimento prazeroso para a criança é estabelecido dentro de uma linguagem própria dela, diferente da dos adultos, à qual Ferenczi denominou como linguagem da ternura.

O trauma consiste no fato de o adulto poder responder significativamente àquilo que na criança é pré-genital, assim estabelecendo uma séria confusão que o ego da criança ainda não tem condições para processar de forma satisfatória. Rank enfatizou sobretudo na sua concepção de que a angústia do bebê resultante da separação da mãe constitui o protótipo da angústia psíquica.

Assim, de modo genérico, usando a terminologia de Winnicott, o psicanalista Dr. Zimerman (2014), apresenta as características que uma mãe “suficientemente boa” devem preencher as funções indispensáveis à normalidade do desenvolvimento da criança, ou seja, requesitos necessários para um desenvolvimento sadio da criança, sendo eles:

• Ser provedora das necessidades básicas do filho, de sobrevivência física e psíquica.
• Exercer a função de paraexitação dos estímulos que o ego incipiente da criança não consegue processar devido a sua natural imaturidade neurofisiológica.
• Possibilitar uma simbiose adequada, de modo a não haver um desapego por demais precoce e, tampouco, por demais excessivo e prolongado.
• Compreender e descodificar a arcaica linguagem corporal do bebê.
• Frustrar adequadamente, de sorte a permitir as ilusões da criança para, aos poucos, ir procedendo à desilusão das ilusões.
• Fundamentalmente, conter as angústias e necessidades da criança, o que na terminologia de Bion aparece com o nome de continente, ou de réverie, enquanto Winnicott a denomina de holding.
• Acompanhar as contenções referidas acima por uma capacidade de empatia.
• Sobreviver aos ataques destrutivos e ás demandas vorazes do filho.
• Permitir o exercício de a criança devanear, imaginar e fantasiar, construindo aquilo que Kohut chama de self grandioso e de imago parental idealizado. A mãe deve conhecer a importância das significações que estão embutidas no seu discurso dirigido à criança.
• Funcionar como um espelho, como está expresso nessa bela frase de Winnicott: “o primeiro espelho da criatura humana é o rosto da mãe, seu olhar, sorriso, expressões faciais…”
• Ficar atenta para conhecer, não só as angústias, mas também as capacidades positivas dos filhos.
• Servir como um importante modelo de identificação para a criança.
• Ser verdadeira.

Diante o exposto acima, parece pouco provável que um arranhão possa provocar um trauma psicológico numa criança, quando são asseguradas as condições de uma maternagem adequada defendida por Winnicott. Isso posto, no mundo infantil acidentes podem acontecer, um arranhão num galho de uma árvore, com um brinquedo, ao brincar com outras crianças, um acidente inesperado. Mesmo com todos os cuidados que devem ser tomados para evitar acidentes, no trato com as crianças, seja na escola, numa creche ou no lar não há garantia de que acidentes não irão ocorrer, mesmo com todos os cuidados e com a atenção necessária. Entretanto, a falta do afeto de uma maternagem adequada ou de uma mãe suficiente boa pode provocar danos ao desenvolvimento emocional do indivíduo.

carmo

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