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Sociedade em rede, informacional ou sociedade de consumo?

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“Não há mal eterno na natureza humana. Não existe nada que não possa ser mudado por ação social consciente e intencional, munida de informação e apoiada em legitimidade”.

Castells

01– Mara já tem whatsApp?
– Preciso conversar com ela, pois ela não atende o celular.

Essas foram as palavras da minha filha esta semana, referindo-se ao comentário feito pela minha irmã que precisava falar comigo, e enviou uma mensagem para ela.

– Maria, o grupo de mestrado manda avisar que aula irá começar às 16:00h, eles se comunicaram pelo whatsApp, mas como você não tem, mandaram te avisar.

– Maria, não é possível, você ainda não tem whatsApp? Precisa adquirir logo, esta semana!

Estas foram as cobranças da semana sobre a minha “exclusão digital”.

Já fiquei tentada em comprar um novo celular, pois o meu comprado há dois anos, já está defasado em termos de aplicativos mais “atualizados”. Fui a várias lojas, mas recuo quando vejo o preço.

As novas tecnologias da comunicação vêm alterando a cultura, ou seja, a forma de vida das pessoas, e a comunicação mais rápida e dinâmica alterou, radicalmente, a noção de tempo e espaço na pós-modernidade.

Segundo Castells (1999), quando ocorrem mudanças nas relações de produção, de poder e de experiência, uma nova sociedade poderá ser caracterizada. Portanto, a cultura, as formas sociais de espaço e tempo passam, também, por um processo de transformação multidimensional. Ele chamou de capitalismo informacional esta nova sociedade, que inclusive altera as relações de classes e proporciona uma grande defasagem entre o nosso excesso de desenvolvimento tecnológico e o subdesenvolvimento social.

No que se refere a mão-de-obra, diferentemente do modelo tradicional do capitalismo industrial, ela é redefinida no seu papel de produtora. O que implica forte influência da educação sendo a principal qualidade dos trabalhadores na capacidade de alcançar diferentes níveis mais elevados para atender as demandas desta nova sociedade. Entretanto, “A norma continua sendo a produção pelo lucro e para a apropriação privada dos lucros com base nos direitos de propriedade – o que constitui a essência do capitalismo”. Assevera o autor.

A inovação passa ser a fonte decisiva da produtividade dessa nova economia global, bem como a competividade e sua capacidade de ser flexível. Destacam-se, ainda, nessa nova dinâmica, os conhecimentos e informações como elementos essenciais. Não basta simplesmente a tecnologia da informação, é preciso ter uma cultura com capacidade para utilizá-la, daí a sociedade cria de forma dinâmica os seus mecanismos de incentivo ao consumo para que as pessoas, criando um falso sentimento de satisfação, que dificilmente será verdadeiramente preenchido diante o vazio existencial e busca de novas identidades que essa sociedade provoca nas pessoas, possam se sentir felizes comprando e comprando.

A questão que se coloca para reflexão é: para sermos felizes precisamos realmente comprar sempre mais, ou estamos alienados em busca de novas sensações, por não compreendemos que os valores fundamentais da vida estão nas coisas simples do cotidiano. Por que então esta obsessão pelas compras? Por que eu preciso ter um whatsApp mesmo?

Maria do Carmo Gomes Ferraz
Mestranda da FACED – UFBA

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