Siga-nos

Palavreado Barreirense

Chiquinho, chuva e carnaval

2021 não haverá carnaval em Barreiras, “ela jurou desfilar pra mim”…

Publicado

em

Chiquinho, chuva e carnaval

No velho Oeste da Bahia
a chuva deixa em suspense
o carnaval que se anuncia:
deixa que um folião pense
se é melhor pular de dia,
ou se a noite lhe convence.

E quem será que fica tenso
com a chuva em fevereiro?
Ora quem! Chiquinho cearense
que dormiu o ano inteiro
em retalhos de cetim
dizendo pra ele mesmo:
“eu jurei desfilar pra mim”.

No velho Oeste da Bahia
Chiquinho cearense se veste
com confetes, serpentinas
e diz: “o anel que tu me deste
com essa pulseira combina;
hoje à noite eu pinto o sete,
quero o brilho e purpurina”

No faroeste do velho Oeste,
se há duelo em fevereiro,
o mocinho é Chiquinho
que dormiu o ano inteiro
com Pierrot e Colombina,
e não viu Durangos Kids
nem justiceiros ou chacinas.

No velho Oeste da Bahia
a chuva não afasta o povo
do carnaval barreirense.
E quem tem nas veias mais fogo?
Advinha! Chiquinho cearense,
que dança na chuva sem guarda-chuva,
que pula debaixo do sol sem sombrinha;
que ensaia na noite turva
fazendo sarapatel na cozinha.

Pense o que você pense:
não é porque ele é cearense
que a chuva de hoje adia
o que ele guardou na dispensa
igual açúcar ou cravo da Índia,
açafrão, refrão, mas eram fantasias,
pra usar em apenas quatro dias.

E ferve na panela sarapatel,
e nos nervos das pernas o frevo;
e já não lhe resta outra escolha:
cair na folia do bloco da “Rola”;
e dançar sem gaiola e sem jaulas,
jurando gastar os pés e a sola
com cetins e lantejoulas.

Trompete, trovão e trombone
confete de chuva e estrondo,
as águas de março no lombo;
na marcha que dança esse homem,
encharcam o peito de Chico,
Francisco de batismo no nome,
e que é Chiquinho há anos e anos
(os íntimos assim o chamam).

E a chuva lava a alma do dono
e, à beira do trio, se abandona;
carnavalesco à margem do rio,
folião beiradeiro e ribeirinho;
com alma lavada vai o velho Chico
também conhecido como Chiquinho:
enchente no riso de rio São Francisco.

Chiquinho fazendo a surpresa:
pavão empinando a cabeça:
que pena que o pavão não esteja
servindo de novo a bandeja;
labuto seu vulto em peleja
pra nos desfazer a tristeza.

Arroubos de amores, Dolores;
Germanos, Joões e Cafobas;
paixões no oba-oba do cais
e as filhas de João “Abóbra”;
quaresma deixando as sobras
e as cinzas deixando sinais;
Chiquinho e a lua tão loba
querendo o carnaval de volta;
Chiquinho, levado por outros,
dizendo: “me solta, me solta”.

E já vem raiando outro dia
da serra do Mimo, do Saco
“o mocotó de Alice”, dizia,
“é remédio que cura ressaca”;
“depois rio de Ondas”, sorria,
“mergulho de corpo e casaco”
pra lavar qualquer fantasia,
um beijo na alma que marca.

Chiquinho de sandália e colar havaianas
surfando fantasia nas ondas do rio de ondas.
O Havaí é aqui,
aqui no rio de Ondas.
Chiquinho, um menino do rio:
dragão tatuado no braço,
pavão pra voar no espaço.

Chuva, suor e cerveja;
Chiquinho e saudade entregue de bandeja.

Ouvira Benito de Paula:
“Eu dormi o ano inteiro
em retalhos de cetim”.
Mas chegou o carnaval
e ele não desfilou
e choveu na avenida e choveu;
ninguém pensou que mentia
o Francisco que não deu adeus.


Clerbet Luiz

Palavreado Barreirense

Seja integrante de nosso grupo de WhatsApp!
Falabarreiras Notícias 42