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Pais colocam filhos para estudar em casa enquanto greve é mantida no Rio

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Greve de professores das redes municipal e estadual começou em agosto.
Apesar da paralisação, mães apostam na melhoria da educação após a greve.

A greve dos professores da rede estadual e municipal do Rio está prestes a completar dois meses e a situação já preocupa os pais. A moradora da comunidade Dona Marta, em Botafogo, na Zona Sul da cidade, Josefa França Figueiredo, contou nesta quinta-feira (3) ao G1 que apesar da dificuldade financeira está pagando uma professora particular para as filhas para elas não perderem conteúdo.

“Como elas estão sem aula, eu pago uma professora duas vezes por semana para elas não ficarem perdidas. Como ela [professora] é muito amiga, eu pago R$ 160 porque é quanto eu posso. Eu tenho que gastar para elas terem conhecimento. A gente que é preocupada com a educação tem que fazer alguma coisa pelos filhos”, contou a dona de casa Josefa França Figueiredo.

Esforço dos pais
Mas o esforço de Josefa não é apenas financeiro. Mãe de Glenda Eduarda Figueiredo, de 13 anos, e Brenda Vitória de Figueiredo Souza, de 18 anos, ela acorda todos os dias muito cedo para levá-las à escola. A filha mais velha é cadeirante e todo o processo para deixá-la na escola, no Largo do Machado, é mais complicado.

“Eu tenho que descer o morro e pegar o metrô. Hoje, por exemplo, eu a deixei na escola às 7h e assim que eu cheguei em casa às 8h e ela me ligou para dizer que não teria aula por causa dos professores em greve. Eu faço um esforço danado em vão”, afirmou Josefa.

Segundo ela, as filhas ficam chateadas com a paralisação. “Ela [Brenda] pensa no problema dela, sabe que tem que lutar com unhas e dentes para conseguir vencer na vida. Ela ama estudar, devora os livros. Eu fico triste quando vejo ela chorando porque está sem ir para a escola. Eu mato um leão por dia para ver a minha filha vencer na vida”, contou emocionada Josefa.

Crianças estudam em casa
Moradora de Santa Cruz, na Zona Oeste da cidade, Flavia Nascimento de Castro também está colocando o filho Kevin Nascimento de Almeida, de 13 anos, para estudar em casa. O estudante cursa o sétimo ano na Escola Municipal Marechal Pedro Cavalcanti.

“Eu estou botando ele para fazendo alguma coisa, porque se depender dele, ele não quer fazer mesmo. Há uma semana eles fizeram um calendário e o Kevin vai para a escola três vezes na semana e só tem aula de música e inglês. Eu acho que pode prejudicar o ano letivo dele. Ele estava com notas baixas em ciências. Ele tinha que se recuperar neste bimestre. Se forem passar todo mundo, ele vai para o próximo ano sem saber de nada. Todos os alunos serão prejudicados”, revelou Flavia Nascimento de Castro.

Sebastiana Pereira da Silva tem um comércio há 36 anos em Botafogo e disse que fica triste em ver a criançada na rua. Avó de cinco netos, ela acredita que a culpa da greve é do governo.

“Isso tudo é por causa do prefeito que não paga os professores direito. O ano dos meus netos está sendo horrível, é um absurdo eles não terem aula. Os professores têm que lidar com essas crianças todas e ganham tão pouco. Até alguns professores têm que colocar os filhos no colégio porque eles não têm dinheiro para pagar uma escola particular”, falou Sebastiana Pereira da Silva.

Avós e amigos ajudam com as crianças
A doméstica Tereza Jaqueline Rosa, de 43 anos, é mãe de quatro filhos: Tauani, de 4 anos, Tales, de 10 anos, Taisa, 12 anos, e Tuany, de 18 anos. Ela contou ao G1 que está recorrendo aos familiares para ficarem com as crianças por causa da greve dos professores.

“Eu acho que os professores estão no direto deles, mas as crianças não vão ter férias. A greve prejudica muito as crianças. Tenho me atrasado com frequência para ir trabalhar. Pedi para minha mãe ficar com eles, mas ela já é uma idosa, tem 71 anos”, disse Tereza Jaquelina Rosa.

“A Alice [filha] está tendo aula, mas outras turmas de crianças da idade dela estão sem. Conheço muitos pais que precisam trabalhar e têm que deixar os filhos com os avós e vizinhos”, contou Valdirene.

Sem aulas, muitos pais dizem que os filhos ficam ociosos durante o dia, mas não tiram a razão da greve.

“Eles não vão para o colégio e ficam no computador. Isso não é bom para as crianças. Mas é o jeito que os professores tem de mostrar que não está bom, né?”, contou Sebastiana Pereira da Silva.

“Eu apoio em termos a greve, porque acho que está durante muito. Mas eu acho que tem dedo da oposição neste movimento”, disse Josefa França Figueiredo.

“Ele está adorando porque está em casa. Mas eu disse: você está gostando agora, mas mais pra frente você vai se arrepender. Porque no próximo ano ele vai acumular mais coisa que não sabe”, alertou Flávia Nascimento de Castro.

“Eu acho que ele é válida, porque a educação está muito ruim. Se é a hora de fazer, tem que fazer logo. Não adianta voltar e no ano que vem fazer novamente. É melhor as crianças perderem o ano agora, mas ter uma educação de qualidade. Os professores trabalham para os nossos filhos. A gente que trabalha não tem como acompanhar. Pra você ver, eu que ensinei meu filho a ler, porque ele não conseguia na escola. Essa greve pode ajudar a melhorar isso tudo”, falou Valdirene Onório.

De acordo com a Secretaria Municipal de Educação, 13% dos professores aderiram a greve. Na rede estadual, este número fica em torno de 0,8%. O Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) afirmou que mais de 90% dos professores estão parados.

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