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O efeito “comercial de margarina”

A sensação de que todo mundo é feliz. Mas Fernanda, esposa relapsa e mãe desinteressada, está infeliz com sua vida e com seu casamento…

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Luara Batalha

Quando vemos famílias no estilo “comercial de margarina”, tomando café da manhã numa grande mesa coberta de quitutes saborosos, sempre imaginamos a alegria daquele lar. É difícil crer que pessoas que convivem com tanta harmonia tenham problemas ou sofram. Costumamos associar esses momentos gastronômicos alegres e iluminados com felicidade – talvez por focarmos na nossa vontade de viver algo semelhante.

Essa vida de aparências se tornou algo bastante recorrente e está disponível para quem prestar atenção. Inclusive, é possível vê-la nas páginas do livro Suíte Tóquio, de Giovana Madalosso. Pelo título, de primeira, pensamos que a história tem algo de internacional, já que esse nome poderia ser facilmente a especificação de uma suíte elegante de algum hotel internacional com arquitetura asiática. Porém, esse, na verdade, é o nome dado por Fernanda ao quarto reformado da babá, Maju. E o que seria isso? Uma camuflagem, uma ótima legenda para uma postagem nas redes sociais.

Suíte Tóquio

Fernanda, esposa relapsa e mãe desinteressada, está infeliz com sua vida e com seu casamento, tendo encontrado fora dele uma paixão que ela acreditava não mais poder viver. Maju, por sua vez, finge ainda ser casada e esconde a dor por uma gravidez que não vingou. Mesmo que diferentes, as duas mulheres vivem no mesmo comercial de margarina, fingindo uma completude que não sentem. O medo e a comodidade estão sempre presentes.

Apesar de todo esse fundo, o enredo do livro não gira em torno disso e sim de um sequestro – não tratado aqui para evitar mais spoilers do que os já dados. Por sinal, a primeira linha do livro já te prende: “estou raptando uma criança” – uma ótima técnica de escrita que segura o leitor desde o início. A história narrada em duas vozes, com vocabulário e aprofundamento distintos, mostrou de forma clara o raciocínio, as características e os anseios de Fernanda e Maju, evidenciando a similaridade e, ao mesmo tempo, o contraste entre elas.

Assim como elas, nós estamos sempre em busca de algo, que muitas vezes não sabemos nem o que é. Quando não encontramos, e aquele vazio vem, preenchemos ele com o que melhor ocupa o espaço: comida, #tbt, escrita, bajulação por afeto, sequestro (fortemente não recomendado). Alguns desses recheios, como essa coluna, são benéficos, outros, indigestos; coisas a mais do que compreendemos numa primeira análise, assim como o comercial de margarina.

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Luara Batalha
Baiana com mais de 10 livros publicados em sua área, Luara Batalha é engenheira civil, mestre em engenharia de estruturas e atua com ensino e pesquisa. Sempre dedicou parte do seu tempo a expressões artísticas e desde cedo se descobriu uma leitora voraz, mergulhando em obras de diversos estilos. Apaixonada pelas letras, teve seu conto “Invasão de território” publicado na antologia Soteropolitanos e atualmente trabalha no seu primeiro romance.

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