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Ensaios

Sejamos a diferença que queremos

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teste-internoPais criam filhos sem limites, exageram no culto à autoestima de suas crias, que vão crescendo sem saber ouvir um não; arrogantes, ociosos, mimados ao extremo e com superegos assustadores. A seguir, o que vemos são jovens gritando e dando ordens aos próprios pais ou agredindo e queimando pessoas nas ruas por “pura diversão”. E na sequência, pais chorando, lamentando, para em seguida, pagarem fianças em delegacias, defender ferrenhamente seus filhos e passar a mão sobre suas cabeças mal-educadas e criminosas.

As pessoas fumam uma, duas, três carteiras de cigarro ao dia e depois querem processar a indústria tabagista por suas más escolhas (sim, fumar ou não ainda é uma escolha individual!). O cidadão vota pela segunda ou terceira vez em um sujeito que esteve comprovadamente envolvido em escândalos de corrupção, depois vai para o bar beber uma cerveja bem gelada e falar mal da política brasileira como bom revolucionário que é.

O brasileiro reclama de ser um “palhaço” diante de tantos escândalos de corrupção, mas é justamente ele que ri histriônico diante da TV e dos jornais que exibem um político guardando propina na cueca. Ficamos revoltados com um deputado que é flagrado roubando dinheiro público. Contudo, achamos natural o “jeitinho brasileiro” de subornar o guarda de trânsito ou um policial. Também achamos “normal” encontrar um dinheiro na rua e não procurar pelo dono do mesmo ou não avisar a moça do caixa que ela nos deu notas a mais.

As pessoas jogam lixo nas ruas e depois choram diante de suas casas alagadas ou reclamam do péssimo serviço de limpeza pública de sua cidade. Criticamos as condições ruins das nossas estradas e rodovias, mas deixamos de usar o cinto de segurança, abusamos da velocidade e quantas vezes bebe-se e dirige-se a seguir.

As pessoas se expõem de todas as maneiras prováveis e improváveis nas redes sociais e em seguida, esbravejam que estão tendo sua privacidade invadida. Tratamos mal nossos vizinhos, idosos, crianças, animais, colegas de trabalho, funcionários, familiares. Somos uma multidão de crianças mal-educadas, egoístas e com mínima ou nenhuma gentileza.

O brasileiro passional, que torce incondicionalmente para o seu time de futebol, que veste a camisa, que organiza torcida e que briga com quem tiver que brigar para defender seu clube não é o mesmo brasileiro diante da corrupção, das filas em hospitais, da falta de transporte público, da falta de emprego, da falta de escolas, da falta de respeito. O primeiro brasileiro vai à luta, o segundo foge à luta.

O brasileiro fica indignado diante de uma violência policial, mas briga e mata no trânsito por ter seu carro fechado por outro. Fica indignado com os altos salários dos deputados, mas rapidamente afirma que se estivesse no lugar dele também nomearia parentes e amigos e que tiraria vantagens do cargo. O poeta e estadista francês Victor Hugo afirmou que entre um governo que faz mal e o povo que o consente, há certa cumplicidade vergonhosa. Ele estava certo.

Nossos políticos precisam ser fiscalizados. Todavia, também deveríamos fiscalizar a cidadania de cada um de nós. Tudo começa em nós mesmos. É preciso, antes, bem antes, “construirmos” cidadãos de bem, para que estes se tornem políticos de bem, trabalhadores de bem, líderes de bem. É preciso aprender desde criança a ser cidadão. É preciso aprender desde cedo os nossos deveres e depois os nossos direitos, porque em um país onde todos querem somente direitos, ninguém terá deveres.

Precisamos educar melhor nossas crianças e jovens com firmeza e carinho, formando seres humanos, não animais que espancam gente, queimam índios, moradores de rua e bichos. Precisamos reinventar nosso país. Precisamos nos reinventar enquanto cidadãos. Queremos mudança, mas não queremos mudar. E a mudança começa em nós, porque como já dizia Mahatma Gandhi: “Seja a diferença que você quer ver no mundo”.

Cathy Rodrigues
Jornalista

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