Destaques
Reprodução assistida permite que pessoas com HIV tenham filhos sem o vírus
Técnicas minimizam riscos de transmissão do HIV para parceiro e bebê
Fernanda Matos | Coletivo Conversa | Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida
Segundo a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva, 86% das mulheres diagnosticadas com o vírus HIV estão em idade reprodutiva, entre 15 e 44 anos e um terço delas tem o desejo de engravidar. O Boletim Epidemiológico HIV/Aids 2017 do Ministério da Saúde registrou 7.882 novos casos de gestantes com o vírus no Brasil. Para essas mulheres portadoras do vírus HIV que sonham em ter filhos, a gravidez e o risco de transmissão do vírus para o bebê e para o parceiro podem ser mitigados com cuidados específicos.
O médico ginecologista e especialista em reprodução humana assistida creditado pela Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA) Emerson Cordts reforça que o primeiro paradigma que temos que quebrar é o entendimento da diferença entre uma pessoa ser portadora do vírus HIV (soropositivo) e ter Aids. De acordo com ele, nos últimos 10 anos houve uma evolução espantosa no tratamento da doença e novos protocolos de tratamento com medicamentos antirretrovirais têm aumentado as chances de um paciente soropositivo passar a se comportar como se tivesse uma doença crônica, e não mais fatal.
“Quanto mais cedo for o início do tratamento antirretroviral, melhor será a sobrevida e menores serão as complicações e efeitos adversos. A infertilidade entra exatamente aí. A infecção por si só, diminui a fertilidade dos pacientes. Porém, quanto mais equilibrado estiver o sistema imunológico, menores serão esses efeitos negativos”, explica.
Ainda de acordo com o médico, sucessivos avanços com o tratamento antirretroviral mudaram o prognóstico de evolução da doença, aumentando expressivamente a sobrevida e permitindo aos pacientes ótima qualidade de vida.
Tratamento e procedimentos – O primeiro passo quando um casal soropositivo resolve ter um filho é obter a liberação de uma equipe médica – infectologista, ginecologista ou urologista e especialistas em reprodução assistida.
A técnica mais indicada para casais soropositivos, concordantes ou discordantes, é a inseminação intrauterina. Para os casais sorodiscordantes (no caso de homem portador e mulher não portadora ou soronegativa), a técnica impede a transmissão entre os parceiros. Já quando ambos têm a infecção, a inseminação também impede que diferentes sorotipos do vírus sejam transferidos de um parceiro para o outro. Quando a qualidade seminal não for adequada, a técnica mais indicada é fertilização in vitro.
“Ao processar o sêmen num laboratório de reprodução humana, podemos separar a parte plasmática (onde estão os leucócitos ou células de defesa e as partículas virais) dos espermatozoides. Isso tecnicamente se chama lavagem. Se esse procedimento for repetido por 3 vezes, as chances de se encontrar vírus na amostra é próxima de zero. Então esse sêmen estaria “livre do vírus”. Desta forma, de acordo com o médico, o risco de transmissão horizontal (entre os parceiros) e vertical (entre a mãe o feto)” seria ínfimo, afirma o médico.
Homem soropositivo – No caso dos homens, por exemplo, a produção de espermatozoides diminui e impacta na capacidade reprodutiva. Um homem soropositivo subfértil apresenta alterações seminais que podem até não ser graves, mas dificultam o processo de fertilização. Com isso, o tempo de exposição para conseguir a gestação poderá ser maior.
Mulher soropositiva – No caso de somente a mulher ser infectada, em primeiro lugar, ela deve estar em condições clínicas adequadas que permitam a gestação – carga viral negativada e contagem elevada das células de defesa. Uma vez grávida, a paciente deve ser acompanhada pelo ginecologista pré-natalista e pelo infectologista. “A paciente deve usar medicação antirretroviral específica para gestante durante todo o pré-natal. O parto deve ser feito por cesárea e a amamentação não deve ser permitida. O recém-nascido deve receber medicação antirretroviral assim que nascer. Desta forma, a chance de transmissão vertical (mãe-filho) é inferior à 1%”, destaca Cordts.
Exames – Antes de iniciar o tratamento, o paciente precisa se submeter a alguns exames como pesquisa de carga viral do vírus HIV no sangue, dosagem de CD4 e espermograma. Para a parceira, se for negativa, exames sorológicos da rotina de pré-natal, ultrassonografia transvaginal e histerossalpingografia (para avaliação das trompas uterinas).
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