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O fracasso escolar e a exclusão dos alunos na escola

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Imagem ilustrativa | Foto: Reprodução http://i.ytimg.com/

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Uma sociedade em que a concentração de renda é das mais elevadas do mundo, como é o caso da sociedade brasileira, tende a promover a desigualdade social e a exclusão. O reflexo da desigualdade na educação formal, diz respeito à exclusão escolar com índices elevados de abandono, evasão escolar e repetência dos alunos.

Não podemos pensar a educação e as políticas públicas de forma desarticulada com a sociedade politicamente organizada, mas questionando a influência do Estado com relação ao atendimento das suas necessidades.

Já com relação à problemática do baixo rendimento escolar esta não é uma questão específica do Brasil, ela afeta, também, vários países. Kovacs (2004), afirma que o fracasso escolar é um tema de interesse dos países membros da OCDE – Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico – que desenvolve um projeto sobre este fenômeno, o qual tem consequência para o indivíduo, o sistema educacional, para a competitividade econômica e a coesão social, na medida em que está implicada uma carga financeira para os sistemas educacionais. Daí se justificaria as ações no sentido de contribuir para uma maior eficácia e eficiência dos sistemas educacionais.

A OCDE defende dois objetivos na discussão dessa temática, assevera a mesma autora, sendo eles: averiguar a dimensão das diferentes manifestações dessa problemática nos países membros; e classificar a ampla gama de políticas projetadas para enfrentar o problema. Cita como exemplos, deste último objetivo, a reforma no nível sistêmico e curricular; intervenções nas escolas e programas especiais para aplicação de recursos adicionais. Diante do exposto acima, se verifica o víeis econômico da OCDE na discussão do fracasso escolar. (MARCHESI; PÉREZ, 2004)

Com relação à definição conceitual sobre o fracasso escolar Marchesi e Péres (2004), pesquisadores do fracasso escolar na Espanha, advogam que o termo fracasso escolar, apesar de ser amplamente difundido em todos os países, é questionável.

Primeiro, por transmitir a ideia do aluno fracassado que não teve progresso nos estudos, como também no âmbito de seu desenvolvimento pessoal e social e nos seus conhecimentos. Segundo, porque oferece uma imagem negativa do aluno, afetando a sua autoestima, bem como a sua confiança para possíveis melhorias no futuro. Esse rótulo à escola, por não se alcançar os níveis que se espera dela, pode aumentar as suas dificuldades, bem como distanciar os alunos e as famílias, que poderiam contribuir para a melhora da instituição de ensino. Terceiro, por centrar o problema do fracasso no aluno e por não considerar outros agentes e parâmetros como as condições sociais, a família, o sistema educacional ou a própria escola.

Não existe uma explicação única para o fracasso escolar. Portanto, deve ser entendida a partir de uma perspectiva multidimensional, destacando-se as dimensões que levem em conta a família e suas condições sociais, a organização do sistema educacional, a escola e seu funcionamento, a sala de aula no que concerne às práticas dos professores e, finalmente, a desmotivação do aluno para a aprendizagem formal. Essas dimensões estão inter-relacionadas.

Nesse viés, sendo um processo, o baixo rendimento escolar poderá estar relacionado às seguintes variáveis: individual, institucional e social. Portanto, é oportuno fazer uma relação entre a oportunidade política, as condições econômicas, o contexto sociocultural e as metas educacionais na discussão do fracasso escolar para uma melhor compreensão desse fenômeno.

Com relação à questão do fracasso escolar, Charlot (2013) na defesa dos aspectos implícitos da atividade escolar, afirma:

Implicitamente, a escola requer certa forma de relação com a cultura e a linguagem e, nas suas avaliações do aluno, essa relação é que a escola avalia. Em outras palavras, a escola não ensina o que avalia. Quem já construiu essa relação na sua família pode conseguir êxito escolar e quem não o fez, fracassa. Essa relação é socialmente construída, mas, já que fica implícita e, portanto, escondida, ela é considerada um fato de natureza: é “bom aluno” quem é naturalmente inteligente. O próprio professor, como Bourdieu evidenciou, valoriza o aluno talentoso, que parece ter êxito sem esforçar-se, e menospreza o aluno que trabalha muito para atender às exigências da escola, considerado “escolar demais”. Em outras palavras, e por mais paradoxal que seja, a própria escola não valoriza o trabalho escolar. (CHARLOT, 2013, p. 139)

Assim, Charlot defende a ideia de que a causa do fracasso não tem somente relação direta com a condição social do aluno, mas também, com o sentido que ele atribui à atividade de estudar. Assim, a sociologia da reprodução, com seu determinismo, teria negligenciado a questão atividade escolar. Charlot (2013, p. 147) sobre esta questão pondera: “contudo, para analisar a atividade do aluno, não basta levantar a questão do seu sentido; é preciso, ainda, prestar atenção à sua eficácia.” Assim, quando não há prazer não existe sentido de aprender. O prazer o e o desejo são elementos fundamentais para este autor.

Alguns estudos foram desenvolvidos nas últimas décadas no Brasil com relação à exclusão ou fracasso escolar no sentido de compreender essa problemática e contribuir para uma maior reflexão e adoção de políticas públicas para fazer frente a este fenômeno.

O fenômeno da exclusão escolar é um tema que preocupa educadores e pesquisadores da educação no Brasil. Nesse sentido, algumas pesquisas relacionam o fracasso como reflexo da sociedade e seu modo de produção excludente, que gera desigualdades sociais tendo reflexo na educação, uma vez que a mesma faz parte desse contexto social, cultural e político. Entretanto, cabe ao educador considerar a subjetividade dos estudantes e ter um olhar diferenciado.

Portanto, não basta somente garantir o acesso é preciso que a escola seja eficaz e promova a equidade e uma educação de qualidade. A escola pode fazer a diferença com Projeto Pedagógico articulado coma a comunidade escolar e com uma gestão eficiente que articule todos os docentes e comunidade escolar para a promoção da eficácia e da equidade e uma educação de qualidade includente.

REFERÊNCIAS
CHARLOT, B. Da relação com o saber às práticas educativas. São Paulo: Cortez, 2013. – (Coleção docência em formação saberes pedagógicos)

MARCHESI, A.; GIL C. H. (Orgs.). Fracasso escolar: uma perspectiva multicultural. Trad. Ermani Rosa. – Porto alegra: Artmed, 2004.

carmo