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Gal Costa segue fase de renovação em bom álbum com frescor pop e novos compositores

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Hagamenon Brito | Correio24h

O novo álbum, Estratosférica (Sony Music), chega às lojas dia 26 em CD, vinil e no iTunes

Gal Costa canta Marisa Monte, Mallu Magalhães, Céu, Criolo e Camelo em novo disco | Foto: Reprodução

Gal Costa canta Marisa Monte, Mallu Magalhães, Céu, Criolo e Camelo em novo disco | Foto: Reprodução

A voz de Gal Costa, que completa 50 anos de carreira e 70 (em setembro) de vida nesta temporada, segue especial e com seu timbre inconfundível – é a voz mais bonita da MPB. O novo álbum, Estratosférica (Sony Music), chega às lojas dia 26 em CD, vinil e no iTunes, e mostra também que Maria da Graça Costa Penna Burgos continua honrando seu passado ousado. A maior mudança da vida de Gal nos últimos tempos é a presença do filho Gabriel, 9, um “menino adorável, de boa índole, carinhoso”, e com quem ela, apaixonadamente, mora na capital paulista.

Então, imagine chegar para a entrevista com Gal no momento em que ela, por telefone, fica sabendo que Gabriel está passando mal, com suspeita de virose, vomitando e sendo levado para o médico? Mas, com seu habitual profissionalismo (e como já nos conhecemos de muitas outras estações), ela controla um pouco a preocupação materna e começa a falar sobre o rebento fonográfico Estratosférica.

“O disco é uma continuação de Recanto (2011). Acho que ele não existiria sem Recanto, que foi um trabalho que me empolgou muito, me trouxe coisas muito boas. Recanto nasceu da vontade de Caetano de fazer um trabalho inédito pra mim, com uma estética musical determinada e eu me apropriei completamente disso na hora de fazer o show, que também foi dirigido por Caetano”, explica.

Transformação
Em Estratosférica, álbum com direção artística e repertório assinados pelo jornalista paulista Marcus Preto, 42, Gal Costa pela primeira vez canta compositores como Marisa Monte, Criolo (em parceria com Milton Nascimento), Céu, Pupillo, Lirinha, Marcelo & Thiago Camelo, Jonas Sá e Mallu Magalhães, autora do primeiro e delicioso single, a jorgebeniana Quando Você Olha para Ela.

Por trazer tantos autores da nova geração, o trabalho evoca uma característica de Hoje, álbum de 2005 que não teve a repercussão esperada. “Hoje tinha compositores jovens, como Junio Barreto, que voltei a gravar agora, mas era um disco mais perto da MPB tradicional, com arranjos de Cesar Camargo Mariano”, afirma.

E completa: “Essa fase de renovação atual começou mesmo com Recanto, quando conectei meu passado e meu presente em termos de transformações. É onde resgato uma faceta do meu trabalho de fazer algo mais voltado para o público jovem”.

João e Marisa
Gal Costa é a cantora brasileira mais influente sobre as novas gerações de intérpretes femininas do país – de Marisa Monte a Tulipa Ruiz, passando por tantas outras.

“Sei que muitas cantoras beberam da minha fonte e acho natural isso, porque eu também bebi da fonte de João Gilberto, não apenas do lado bossa-novista de maneira de cantar de modo suave e perfeccionista. Mas também pela estranh eza, pelas transformações. Quando ouvi João pela primeira vez, senti estranheza e admiração ao mesmo tempo”, conta.

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Mallu, Camelo e irmão De Mallu Magalhães, uma das suas discípulas assumidas, Gal Costa canta a deliciosa Quando Você Olha para Ela. De Marcelo Camelo e seu irmão Thiago, a cantora canta a bela balada Espelho d’Água. Marisa Monte “Marisa tomou a iniciativa de me mandar uma canção. Nunca a havia gravado”, diz Gal, que gosta muito da cantora carioca. Marisa sempre citou Gal como uma das suas maiores influências. Milton e Criolo O rapper Criolo fez a letra e Milton Nascimento musicou Dez Anjos, a primeira e até agora única parceria dos dois. A canção é um dos destaques de Estratosférica, que sai dia 26 em três formatos

Ouça a música ‘Quando você olha para ela’

Para Marisa Monte, que lhe mandou a tribalista Amor, se Acalme (parceria com Arnaldo Antunes e Cezar Mendes), Gal Costa também é só elogios. “Marisa sempre falava no começo da carreira que eu era uma das suas grandes influências. A imprensa passou a falar tanto disso que ela deixou de falar, no que fez muito bem (risos). Gosto de Marisa, canta bem e tem uma figura linda no palco”.

Marcus Preto comenta que ele garimpou novos compositores para o disco como uma forma desses artistas devolverem à cantora baiana um pouco do que eles próprios receberam dela.

Em sua página no Facebook, Mallu Magalhães, por exemplo, postou uma declaração comovente de admiração e agradecimento pelo fato de Gal Costa ter gravado uma canção sua: “Assumo, a partir de hoje, o compromisso de fazer apenas grandes canções, para honrar o posto de compositora gravada pela Gal”, diz um trecho.

Elis e Bethânia
Nos anos 1970, cristalizou-se a ideia de que Gal Costa, Elis Regina (1945-1982) e Maria Bethânia formavam a tríade de maiores cantoras do Brasil. Tanto tempo depois, não resisto a perguntar se, naquela época, existia uma espécie de competição saudável entre as três artistas pelo posto de maior cantora do país.

“Não existia competição entre nós, pois éramos e somos diferentes. Todas somos cantoras maravilhosas. Elis era uma puta cantora, transbordava musicalidade pelos poros e Bethânia tem aquela coisa de voz grave e grande força teatral”, responde Gal.

Aliás, conversar com a cantora é sempre interessante. No lugar de grandes elocubrações, Gal oferece pensamentos diretos, francos. Mesmo numa entrevista em que, certamente, seu corpo está ali na minha frente, mas sua alma pensa no filho Gabriel.

Meu desejo é continuar o papo, mas aos 34 minutos decido que já tenho material suficiente. Gentilmente, Gal me diz: “Obrigado. Você é generoso em deixar eu ir ver logo o meu filho”. Não há de que, nobre senhora da canção.

gal03Crítica: ontem e hoje em harmonia

Recanto (2011), disco  idealizado por Caetano Veloso, era ousado e teve em Gal uma protagonista à altura. Estratosférica mantém o diálogo da cantora com o público mais jovem, mas pinta essa ponte com tinta pop.

Para isso, além da produção competente de Moreno Veloso e Kassin, e da boa direção artística de Marcus Preto, mescla compositores jovens (a maioria) com outros antigos, como Caetano Veloso (na fraca Você Me Deu, parceria com o filho Zeca), João Donato (em Ecstasy, parceria com Thalma de Freitas) e Tom Zé (na boa e libidinosa Por Baixo).

Os maiores destaques são a roqueira Sem Medo Nem Esperança (Arthur Nogueira e Antonio Cicero), a balada agridoce Jabitacá (Lira, Pupillo e Bactéria), a suingada faixa-título (Céu, Pupillo e Junio Barreto), a jorgebeniana Quando Você Olha para Ela (Mallu) , o rock Casca (Jonas Sá e Alberto Continentino) e a dançante Muita Sorte (Lincoln Olivetti e Rogê).

E ainda tem as baladas especiais Espelho d’Água (Marcelo e Thiago Camelo) e Dez Anjos (Milton Nascimento e Criolo). A única não inédita é a faixa-bônus Ilusão à Toa (Johnny Alf), gravada para a novela Babilônia. No formato iTunes tem ainda  Átimo de Som (Zé Miguel Wisnik e Arnaldo Antunes) e a neobossa Vou Buscar Você pra Mim, primeira música que Gal  grava de Guilherme Arantes.