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Agro

Assaltos frequentes em áreas rurais espalham o medo no oeste da Bahia

Publicado

em

Do Globo Rural

Soma de todos os assaltos bate na casa dos R$ 6 milhões.
Maior parte dos assaltos tem ocorrido nos fins de semana.

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No último dia 23, o programa Globo Rural, noticiou a insegurança que os produtores da região tem vivido no campo. Acompanhe:

No oeste da Bahia, assaltos milionários têm ocorrido nas grandes fazendas de soja, milho e algodão. Uma história que, além do prejuízo material, está abalando a autoestima do agricultor. Alguns até pensam em sair da atividade.

A região que concentra municípios como Luís Eduardo Magalhães, São Desidério e Barreiras, transpira riqueza com as máquinas de última geração. As lavouras de alto investimento despontam como um dos principais celeiros na produção de grãos do Brasil. Só que o sucesso conseguido no campo tem atraído quadrilhas especializadas no assalto a produtos agrícolas.

Uma das coisas mais difíceis de encontrar na região é uma propriedade com a porteira destrancada. Hoje, a situação é diferente, com portões eletrônicos, segurança para receber o visitante e ninguém é bem-vindo se não tiver avisado antes.

Depois de serem assaltados, muitos agricultores investiram em alambrados, iluminação e segurança privada. Pelo menos na área da sede da propriedade. Foi o que fez um produtor que não quis ser identificado. A fazenda dele foi invadida três vezes no último ano. “É uma operação de guerra mesmo. Eles são muito organizados. Já roubaram defensivos e equipamentos GPS, essas coisas”.

O presidente do Sindicato dos Produtores Rurais, que engloba oito municípios da região, Vanir Kill diz que a situação dos assaltos se agravou de três anos para cá. “Os meses que agrava e que nós não dormimos direito é o de outubro até o fim de março, abril. É o período da safra. [Durante essa safra] Assaltos de grande volume nós sabemos de oito, nove assaltos já”. A soma de todos os assaltos bate na casa dos R$ 6 milhões.

A maior parte dos assaltos tem ocorrido nos fins de semana, principalmente aos domingos. É quando o movimento na propriedade fica menor por conta do dia de folga dos funcionários. Por isso, os ladrões ganham tempo para agir. O depósito de agrotóxicos é o local mais cobiçado pelos ladrões. Nele estão produtos que podem chegar a R$ 13 mil o quilo.

Com a sensação de insegurança que tomou conta de quem vive no campo, alguns agricultores estão inventando maneiras para proteger o patrimônio. Uma delas é uma porta falsa, lacrada com solda por todos os lados. É uma tentativa de fazer o ladrão perder tempo até encontrar a verdadeira entrada do barracão de defensivos.

O agricultor da região desabafa. “A propriedade era um local até que a gente unia o prazer com o trabalho. Antes a gente dormia de janela aberta e hoje, nem com todo aparato de segurança e seguranças, a gente não consegue mais passar um final de semana na fazenda. E vou ser claro contigo, depois que acontece você talvez pense mais em segurança do que na própria lavoura”.

Essa também é a sensação de outro agricultor, que adotou as mensagens de celular como estratégia para saber o que se passa na propriedade. De meia em meia hora, os seguranças informam como está a situação. Ele conta que levaram acima de R$ 900 mil. “Eu praticamente abandonei minha lavoura uns 14, 15 dias. Não só eu como meus funcionários. Eu não consegui trazer mais ninguém para cá”. Ele chegou a perder mais de R$ 4 milhões de produção.

O equipamento para pulverizar a lavoura custa em torno de R$ 500 mil. Como os ladrões não conseguem levar a máquina inteira, o alvo fica dentro da cabine. São os acessórios como GPS, piloto automático e computador de bordo – itens fundamentais para dosar a quantidade dos produtos aplicados em cada talhão da propriedade.

Sejam artigos eletrônicos ou agrotóxicos, o fato é que, de 2012 para 2013, os assaltos às propriedades rurais aumentaram quase 30% em todo o estado da Bahia.

Em São Desidério, o delegado Carlos Ferro está a três anos investigando os crimes. Ele já conseguiu localizar os ladrões, mas até hoje ninguém foi condenado. “Identificamos pelo menos três quadrilhas de ladrões de defensivos. Em três anos, pelo menos R$ 5 milhões foram roubados em produtos agrícolas e aparelhos GPS e outros equipamentos de fazendas na região. Nada foi recuperado”.

As longas distâncias até as propriedades e a grande extensão do oeste da Bahia são apontadas como as principais dificuldades para a ação policial. Em Barreiras, o comandante regional da Polícia Militar, Coronel Lira, ressalta o atrativo que têm chamado a atenção dos ladrões. “O cara assaltar um banco hoje e levar R$ 500 mil, o cara assalta uma fazenda e leva R$ 1 milhão”.

Pelos dados do coronel Lira, o oeste da Bahia tem registrado de um a dois assaltos por mês, no período da safra, mas ele reconhece que esse número pode ser maior, já que muitos agricultores não fazem boletim de ocorrência.

Segundo ele, o campo nunca tinha demandado tanto da PM. “Os investimentos cresceram. Então as propriedades eram propriedades que criavam bovinos, caprinos. Hoje o agronegócio chegou com grandes grupos empresariais. Com grandes plantações. Então a Polícia Militar também está evoluindo para que a gente possa atender esse crescimento”.

Em uma das últimas propriedades assaltadas no oeste da Bahia, o trauma foi tão grande que um dos sócios resolveu abandonar a região. O outro está pensando em tomar o mesmo caminho. No barracão de defensivos, sobrou o vazio de onde estavam os produtos que foram levados. “Deu um prejuízo em torno de quatro sacas por hectare de soja. Dá o que equivalente a mais ou menos a R$ 800 mil. Eu fiquei durante 15 anos pesquisando essa região para depois comprar. A Bahia nós escolhemos para ser o nosso lugar definitivo, mas foi-se”, diz o agricultor.

O sentimento dele se multiplica em outras propriedades da região, à medida que se multiplica também o número de assaltos no campo. Uma ameaça à produção, ao emprego e à vida.

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