Música
MARÍLIA MENDONÇA:
Um ano de um luto que não passa
Depois de um ano da sua morte, aos 26 anos, ela se mantém como uma das cantoras mais tocadas…


Por Hebert Regis*
Como a “rainha da sofrência” se transformou em um fenômeno musical. Depois de um ano da sua morte, aos 26 anos, ela se mantém relevante como uma das cantoras mais tocadas e longe de ter o seu legado esquecido.
Há um ano, um trágico acidente de avião vitimou a compositora e cantora Marília Mendonça com 26 anos. Líder do “feminejo” e conhecida como a “rainha da sofrência”, ela criou uma personalidade musical, que guardadas às devidas proporções, pode ser, seguramente, comparada às maiores estrelas do show business brasileiro, como Carmem Miranda, Elis Regina, e Ivete Sangalo. Mantendo quase 10,5 milhões de ouvintes mensais no Spotify, Marília obteve um recorde mundial, sendo a cantora com a maior quantidade de clipes de 100 milhões de visualizações no mundo, e a 1ª a superar 9 bilhões de streamings no Spotify. Em julho deste ano, o lançamento de “Decretos Reais” que colocou as seis gravações inéditas como as seis mais tocadas nas paradas de música brasileira.
Com o sucesso de “Infiel”, lançado em 2016, a goiana de Cristianópolis, Marília Dias Mendonça, começou a sua trajetória meteórica, conquistando todos os públicos, principalmente as mulheres, ao contar histórias nunca antes contadas, de um ponto de vista, muitas vezes ignorado. Mais do que compositora e cantora, ela cai nas graças do público como uma das principais (senão, a maior) contadoras de história do Brasil, seguindo, talvez o caminho, de Inezita Barroso e de Almir Sater, e de um fenômeno global, Taylor Swift, com quem compartilhou em dado momento o estilo musical – country ou sertanejo – e o dom de transformar feridas em canções de cunho pessoal.
No estrondoso sucesso “Infiel”, por ex emplo, ela narra em primeira pessoa a história como a mulher “traída”
Ela, simplesmente, parecia não se importar com o que diziam sobre ela. No início da carreira, ainda uma adolescente, assumia sem nenhum “pudor”, admitia que gostava de sentar na mesa do bar e beber cerveja com os amigos. Depois, se tornou mãe do Léo, filho do também cantor Murilo Huff, com quem manteve um relacionamento estável, mas sem oficializar o casamento no civil ou no religioso, brigando com as tradições de uma menina nascida no interior goiano. Em um momento de polarização política, ela se posicionou contrários aos sertanejos, e ficou ao lado das mulheres, ao puxar a #EleNão, nas eleições presidenciais, contra o então candidato na época, Jair Bolsonaro.
Em uma sociedade onde as mulheres são valoradas e julgadas pela aparência, Marília parecia, simplesmente, não se importar com os comentários acerca do seu peso e demonstrava com naturalidade a guerra contra a balança. Aliás, eram nas redes sociais, onde ela mais se trazia a sua personalidade forte, autêntica e transparente, ao combater preconceitos, ao mesmo tempo, que demonstrava viver a vida com leveza e gratidão. Quando sentiu a necessidade de estar mais perto do público, ela criou o projeto “Todos os Cantos – volumes 1 e 2”, onde percorria as capitais brasileiras, e anunciava a gravação no dia, e fazia a publicidade ela mesma panfletando nas ruas do centro de cada cidade. Na pandemia, foi uma das principais artistas a fazer uma live, que atingiu o pico recorde de 33,3 milhões de expectadores ao mesmo tempo.


No dia 05 de novembro de 2021, ela morreu no auge, época que lançava junto com as amigas e parceiras de composição, Maiara & Maraísa, o álbum “Patroas 35%”, e já se preparavam para juntas sair em turnê. Com seis anos de carreira, com discografia que consiste em um álbum de estúdio, quatro álbuns ao vivo, 5 EPs (extend plays) e 14 singles, em pouco tempo, ela colaborou com todos os principais artistas nacionais e de todos os ritmos, como Roberto Carlos, Di Paulo e Paulinho, Ivete Sangalo, Luan Santana, Ivete Sangalo. Por meio da sua discografia, que abrange 324 músicas e 391 gravações, entre autorais e parcerias, e outras 100 inéditas, Marília Mendonça continua viva por meio da sua arte e personalidade e muito longe de ser esquecida ou substituída.
*Mestrando do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal de Goiás/ Jornalista e Assessor de Comunicação