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VACINAS CONTRA A DENGUE:
Onde estamos agora e para onde vamos?

Professor da UFOB tem artigo publicado em renomada revista cientifica internacional. É provável que num futuro não muito distante tenhamos vacinas desenvolvidas na UFOB figurando entre as mais inovadoras do mundo e ajudando a controlar a dengue e outras arboviroses…

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Vacina Contra a Dengue

Professor Jaime Henrique Amorim | Foto: Divulgação

Um artigo científico de autoria do professor Jaime Henrique Amorim, do CCBS-UFOB, foi publicado na terça-feira (29/03) na renomada revista científica internacional The Lancet Infectious Diseases.

Na publicação, em colaboração com o professor Alexander Birbrair, da UFMG, o professor Amorim discute o presente e as perspectivas futuras para uma vacina contra a principal arbovirose do mundo: a dengue.

Com 15 anos de experiência e contribuições científicas e tecnológicas no tema, o professor Amorim, a convite da revista, define o escopo do texto com o título Dengue vacines: where are we now and where we are going? Em tradução livre: Vacinas contra a dengue: onde estamos agora e para onde vamos?

Assim, os autores apresentam a única vacina aprovada por agências reguladoras para imunização em massa no mundo, a CYD-TDV, comercializada sob o nome DENGVAXIA, da farmacêutica Sanofi-Pasteur. Trata-se de uma formulação vacinal baseada em vírus atenuados quiméricos, com parte vírus da dengue e parte vírus da febre amarela, dois vírus aparentados.

O arcabouço genético é baseado em um vírus da febre amarela vacinal, já utilizado em vários países há muitos anos, com histórico de alta eficácia protetora. Em trabalho recente, publicado pela doutoranda Josilene Pinheiro, orientanda do professor Amorim, foi verificado que a maioria dos alvos importantes para indução de imunidade do tipo celular (baseada em linfócitos T) contra a dengue não estão presentes no vírus quimérico, ou seja, os principais alvos do vírus da dengue não estão presentes na vacina, mas sim os da febre amarela!

Os linfócitos T produzem substâncias antivirais que impedem ou limitam a multiplicação do vírus no organismo. Segundo o professor Amorim, a falta de alvos importantes para linfócitos T na vacina da Sanofi-Pasteur restringe o padrão de resposta a anticorpos, pois há uma interdependência dos dois tipos de resposta imunológica. É isto que parece limitar a eficácia protetora da vacina. Além disto, a capacidade de gerar resposta imunológica parece também ser comprometida pela falta de tais alvos, o que requer a administração de três doses no regime vacinal.

O professor Amorim fala com propriedade, pois já publicou diversos trabalhos científicos demonstrando claramente a importância dos linfócitos T no controle da dengue. Recentemente, um artigo também publicado na The Lancet Infectious Diseases

mostrou resultados de um estudo clínico com a referida vacina, onde foi mostrado, pela primeira vez, o padrão de linfócitos T que a vacina induz. Como esperado pelo professor Amorim, há uma deficiência importante de padrão antiviral na resposta imunológica induzida. E o pouco que há, é direcionado contra alvos de febre amarela.

De acordo com o professor Amorim, é importante que as limitações da vacina pioneira contra a dengue sejam conhecidas, pois isso contribui para o desenvolvimento ou atualização de formulações vacinais com maiores chances de sucesso.

O caminho parece ser desenhar formulações vacinais que combinem bem o tipo de resposta baseada em anticorpos com o baseado em linfócitos T. Existem duas vacinas em fases finais de testes clínicos que têm essa característica, inclusive, uma brasileira, desenvolvida pelo Instituto Butantan!

Além disto, o professor Amorim ressalta que a utilização de novas plataformas vacinais, como a baseada em RNA, recentemente empregada em imunização contra a COVID-19, pode contribuir para o avanço da qualidade das vacinas. Também ressalta que o segredo pode estar na edição cuidadosa de novos antígenos vacinais, usando biologia sintética. A este tema, o professor Amorim tem se dedicado nos últimos anos, sendo pioneiro neste tipo de abordagem. Inclusive, algumas vacinas desenvolvidas pelo docente e seus estudantes da UFOB foram levadas para continuidades de pesquisa no renomado instituto americano La Jolla Institute for Immunology (LJI), numa parceria institucional internacional (UFOB-LJI).

Então, é provável que tenhamos, num futuro não muito distante, vacinas desenvolvidas na UFOB figurando entre as mais inovadoras do mundo e ajudando a controlar a dengue e outras arboviroses!