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Educação

O que priorizar para desenvolver a leitura e a escrita dos alunos dos Anos Iniciais do Fundamental nas escolas de Barreiras

A pandemia afastou as crianças das escolas e das alfabetizadoras na fase fundamental do processo de escolarização acrescentado novos desafios ao processo de leitura e escrita…

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Ensino Fundamental

Imagem meramente ilustrativa | Foto: Reprodução Agência Brasil

Se a alfabetização já era um desafio no Brasil, com últimos dados que apontam que menos da metade dos estudantes do 3° ano do Ensino Fundamental alcançaram os níveis de proficiência suficientes em Leitura (Avaliação Nacional da Alfabetização, 2016), após a pandemia esse quadro ficou ainda pior.

De acordo com o Censo Escolar 2021, o número de matrículas na educação infantil manteve a tendência de queda. Apesar do crescimento até 2019, o índice de crianças matriculadas em creches caiu 9% entre 2019 e 2021. A redução é mais notável na rede privada, que apresentou uma queda de 21,6% de 2019 a 2021. Na rede pública, foram 2,3% a menos nesse período. O Censo Escolar de 2021 registrou 69,9 mil creches em funcionamento no Brasil.

Na educação infantil, a pandemia acrescentou novos desafios, afastando as crianças das escolas e das alfabetizadoras na fase fundamental do processo de escolarização. Deste modo, o processo de alfabetização foi interrompido no início do período em que a interação alfabetizadora-criança é indispensável, pois a aprendizagem do sistema de escrita alfabética depende da compreensão bem orientada das relações oralidade-escrita. Por outro lado, o afastamento das crianças da escola interrompe um processo apenas iniciado de escolarização, em que a criança começa a se inserir na “cultura escolar”.

Atualmente, um dos maiores desafios da educação é proporcionar alfabetização de qualidade às crianças, particularmente às das camadas populares, que somam a maioria das crianças neste país. Nesse contexto, as escolas de Barreiras se veem diante do dilema de decidir o que deve ser priorizado para diminuir os prejuízos dessa interrupção repentina e não prevista das atividades escolares mal iniciado o ano letivo.

Diante disso, o grande desafio da escola é persistir em dar continuidade, de alguma forma, dentro das possibilidades e recursos disponíveis principalmente nas escolas públicas e nas redes públicas de ensino, ao ensino interrompido e oferecido por meio de um ensino a distância que só foi possível com a colaboração das famílias.

Com isso, as escolas de Barreiras precisaram pensar em ações que devem ser priorizadas para diminuir o índice de Analfabetismo Funcional neste período em que a maioria das crianças apresentam dificuldade causada pelo isolamento social durante a pandemia e do afastamento das crianças da escola na fase primordial para o desenvolvimento da leitura e da escrita.

De modo geral, a aprendizagem ocorre a partir do conhecimento prévio, ou seja, existe uma permanente transformação a partir do conhecimento já adquirido. Se, por um lado, é o que cada um possui de conhecimento que explica as diferentes formas e tempos de aprendizagem de determinados conteúdos que estão sendo tratados, por outro sabemos que a intervenção do professor é determinante nesse processo; seja nas propostas de atividades, seja na forma como encoraja cada um de seus estudantes a se lançar na ousadia de aprender, o professor exerce papel de grande relevância.

No processo de leitura e escrita, os alunos precisam ser capazes de tomar uma decisão frente ao que leem, perceber não só o que está explícito, mas o que está subentendido e compreender as interações do autor e suas motivações para apresentar a informação de determinado modo. Ao redigir, o aluno precisa saber definir quem será o destinatário, qual o propósito da escrita e como fazer isso de um jeito eficiente; aí está incluído definir o gênero mais adequado e seguir as normas e os padrões socialmente aceitos. Infelizmente, poucos conseguem.

O processo de leitura e escrita emprega uma série de estratégias, isto é, um amplo esquema para obter, avaliar e utilizar informação. A leitura e a escrita, como qualquer atividade humana, são uma conduta inteligente. As pessoas não respondem simplesmente aos estímulos do meio; encontram ordem e estrutura no mundo de tal maneira que podem aprender com base em suas experiências, antecipá-las e compreendê-las.

Os leitores desenvolvem estratégias para trabalhar com o texto, construindo significado ou compreendendo-o. Usam-nas tanto na leitura, quando podem se modificar e se desenvolver durante tal processo. É óbvio que isso só ocorre se houver leitura. Para Fulgêncio (1992), a leitura e a escrita são resultadas das interações entre informações visuais e não visuais, ou seja, quem lê e escreve constrói significados unindo todo o seu conhecimento de mundo, seus esquemas mentais relacionados ao conteúdo tratado no texto, às informações oferecidas pelo autor, expressas no papel.

Desse modo, cabe ao educador atuar para democratizar o acesso ao mundo da escrita, que ainda se apresenta com desigualdade para crianças de classes sociais distintas, e ser um interlocutor inteligente dessa aprendizagem, promovendo um ambiente alfabetizador. “O professor deve dar todas as condições para que a sala pense sobre como se escreve, para que se escreve e quem escreve”, explica Silvana Augusto, formadora do Instituto Avisalá.

As reflexões devem levar em conta as relações entre os elementos da linguagem verbal, pois é nessas relações que eles encontram significado e não em partes isoladas, como as letras. Por isso, é importante que os pequenos tenham acesso a uma diversidade de materiais escritos, ouçam a leitura de diferentes gêneros textuais, tenham oportunidade de escrever segundo suas ideias, interpretem o escrito por meio do contexto e produzam textos ditados ao docente.

Além de inseri-las nas práticas reais de linguagem, é essencial que se compreenda a forma própria que as crianças têm de construir conhecimento sobre a escrita, conforme já demonstrado em pesquisas desde o início da década de 1980. “Quando escrevem, elas colocam em jogo tudo o que conhecem, expondo suas ideias, compartilhando-as com outros escritores, como colegas e professores, e evoluindo”, afirma a especialista argentina Claudia Molinari.

Ou seja, somente pensar sobre o contexto não é suficiente, devem ter a chance de escrever. “Quando dizemos: escreva do seu jeito, escreva o melhor que pode, estamos dando à criança a liberdade de se expressar da forma que sabe e de acordo com as suas capacidades no momento”, explica Regina Scarpa, coordenadora pedagógica da Fundação Victor Civita no texto O Conhecimento de Pré-escolares sobre a Escrita: Impactos de Propostas Didáticas Diferentes em Regiões Vulneráveis.

A motivação é o processo que mobiliza o organismo para a ação, a partir de uma relação estabelecida entre o ambiente, a necessidade e o objeto de satisfação. Isso significa que na base da motivação está sempre um organismo que apresenta uma necessidade, um desejo, uma intenção, um interesse, uma vontade ou uma predisposição para agir.

Portanto, a leitura pode ter várias motivações; identificar seu objetivo permite traçar as características do processo de leitura a ser feito e/ou as estratégias que serão potencializadas. O ato de ler e compreender perpassa a simples decodificação do código escrito, pois sob ele há uma estrutura básica que exige do leitor que coloque em jogo todos os aspectos cognitivos e repertório pessoal. Além disso, quando alguém lê algo é porque tem um objetivo, ou seja, mesmo sem perceber, há implícita à situação um motivo gerador. Outra questão pertinente a esse momento é que, ao ler, o leitor processa seus conhecimentos, construindo sentido.

Pensando assim, o professor deve criar situações que permitam ao estudante vivenciar os usos sociais que se fazem da escrita, como a elaboração de lista de alimentos para uma festa de aniversário, a escrita de uma carta para um colega doente, o seguimento de uma receita na cozinha pedagógica, a produção coletiva de textos e tantas outras atividades que fazem parte do dia a dia de uma sala de aula. Participando de situações reais de escrita, pensando sobre os usos, as características e o funcionamento da língua escrita, o estudante aprende muito mais do que a simples compreensão do sistema alfabético.

O aprendiz, nesse contexto, é um sujeito protagonista do seu próprio processo de aprendizagem; alguém que é capaz de transformar informações em conhecimento próprio; que age sobre o objeto de conhecimento, pensa sobre ele, significando-o; e que interage com outras pessoas e com o meio. Deste modo ler o que se escreveu, com a oportunidade de alterar o escrito, permite que os pequenos percebam problemas na escrita que só aparecem claramente na revisão. Ao comparar a maneira como escreveram a mesma palavra em dois momentos, recorrem ao que os levou a cada uma das formas de escrita e, às vezes, conseguem uma terceira opção, sem a obrigação de chegar à escrita convencional.

Ao produzir um texto e revê-lo, com base nas intervenções do professor, os alunos têm a oportunidade de pensar sobre as diferenças entre o registro oral e o escrito. Também observa durante essa atividade como se dá a organização da linguagem. “O que eu quero dizer?”, “Para quem estou escrevendo?”, “Como transmitir essa mensagem?”. Tais perguntas e o próprio processo de revisão fazem parte do comportamento escritor ao qual as crianças estão se aproximando, antes mesmo de saberem escrever de forma convencional.

Portanto, neste momento em que as dificuldades de leitura e escrita estão ainda mais presentes no cotidiano das escolas barreirenses, afetando todos os tipos de educandos, podendo eles serem crianças, adolescentes ou adultos, a prioridade deve ser desenvolver estratégias, conhecer, identificar e procurar solucionar as dificuldades de leitura e escrita, principalmente o do primeiro ciclo do ensino fundamental.