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O desafio de escrever

Quem disse que para ser escritor basta escrever?

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O desafio de escrever

Luara Batalha

Outro dia estava lendo uma matéria sobre o consumo de literatura no país e os números me chamaram atenção. A média anual brasileira é de 5 livros lidos por ano, sendo que desses, somente a metade é lido por inteira. Além disso, quase 50% da população do país (brasileiros com mais 5 anos) não leu nada no ano de 2019(Dados retirados de Brasil perde 4,6 milhões de leitores em quatro anos). Relacionada a nossa baixa média de leitura há obstáculos atrelados que não significam falta de interesse, como o alto valor dos livros (justificativa para 5% dos leitores e 1% dos não leitores), falta de bibliotecas na região (7% dos leitores e 2% dos não leitores) ou dificuldade na leitura em si (19% disseram ler muito devagar e 9% não entendem grande parte do que leem).

Diante desses números, a atividade de escrever é quase um desafio. A “audácia” de ter colunas semanais ou livros publicados perante a quantidade de leitores é algo que deveria ser valorizado na mesma medida que outras atividades relacionadas à produção de conteúdo. Mas por que? Simples: o desafio não é só o ato de escrever em si, mas o de também “conseguir” ser lido. Hoje, não basta publicar, é preciso que haja uma movimentação para que as pessoas leiam o que está disponível, mesmo quando gratuito.

O escritor precisa se fazer conhecido nas redes sociais e manter o encanto tão trabalhosamente conquistado – tirando as exceções dos grandes nomes da literatura. Portanto, é um trabalho de formiguinha que começa antes mesmo da publicação do material. Ligado a esse esforço, mesmo que proveniente dos interesses particulares de quem escreve, acaba por ocorrer, de forma discreta, um estímulo para que a população leia e se eduque, e não há nada mais revolucionário do que isso.

Virando Páginas

Neste cenário em que ler e se educar também se encaixam na ideia de “provocação” ao que temos hoje, uma obra que considero desafiadora – e aqui falo no sentido social – é a antologia Feminismos. Nesse livro nos deparamos com ilustrações, contos e textos informativos escritos por mulheres de diversos locais do país, nos quais são apresentadas situações em que o feminismo se fez presente de alguma forma. Com personagens reais e fictícios, passeamos pelas restrições vividas por mulheres desde o período da colonização até hoje, evidenciando que, apesar das mudanças, ainda precisamos melhorar bastante.

A antologia Feminismos representa a árdua tarefa que é escrever e publicar. Dezenas de mulheres envolvidas na escrita, revisão, diagramação, ilustração, publicação, propaganda – como eu disse, não basta escrever – e outras tantas atividades. Tudo isso para chamar a atenção dos 52% de leitores do país, e se possível dos 48% de não leitores também. Portanto, escrever é desafiar, é provocar, é ter foça, é se levantar e ter voz (“… sente uma força correndo na espinha das palavras da neta. Será que ela pode mesmo se levantar e ter voz?” Conto A linda flor de bambu, da escritora Denise Fonseca, da antologia Feminismos).

Virando Páginas. Céu.

Luara Batalha

Baiana com mais de 10 livros publicados em sua área, Luara Batalha é mestre em engenharia de estruturas e atua com ensino e pesquisa. Apaixonada pelas letras, é colunista semanal dos sites Fala Barreiras e Folha de Sergipe. Teve seus contos “Invasão de território” publicado na antologia Soteropolitanos, “Momento não esquecido” publicado na antologia Feminismos, “Terapia” selecionado para a antologia Brasil, mostra a tua cara e “Para o porteiro” selecionado para o Prêmio OFF FLIP de Literatura. Atualmente trabalha no seu primeiro romance.

Céu

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