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É medo que chama?

”Eu gosto da tranquilidade de saber que não serei pega de surpresa na próxima cena, página ou esquina”…

Publicado

em

Luara Batalha

Eu sou uma pessoa medrosa. Pensando bem, esse é um eufemismo que não representa o real peso que essa frase tem nas minhas escolhas de lazer. Por exemplo, eu não assisto filmes ou séries de terror ou participo de atividades que me causem assombros de alguma forma ou que envolvam espíritos. Eu gosto da tranquilidade de saber que não serei pega de surpresa na próxima cena, página ou esquina.

Muitas vezes me imagino como protagonista de alguma história. Se estou numa casa sozinha e escuto algum barulho, já visualizo o narrador descrevendo minha reação, os sentimentos que passam pelo meu rosto – bem clichê – e até o som das batidas descompassadas do meu coração por conta da adrenalina percorrendo minhas veias – tudo bem, essa última foi exagerada. Mas o ponto é que eu fico aflita até mesmo quando fantasio essas situações (A título de esclarecimento, trato aqui do consumo de material relativo a terror, horror e derivados).

Então, imaginem minha reação ao ler um inofensivo livro de contos chamado O Vilarejo, de Raphael Montes. A capa já entregava que havia algo sombrio naquelas páginas, mas me deixei levar pela curiosidade e pela vontade de conhecer o trabalho de outros brasileiros. E o que aconteceu? Fiquei tensa do início ao fim – o que mostra que o autor atingiu seu objetivo – e, por incrível que pareça, adorei a sensação.

É medo que chama?

Como o título indica, o ponto em comum entre os contos é o tal vilarejo e, por tabela, os seus moradores. Cada história narra experiências vividas por um dos habitantes daquele lugar, sendo que cada uma delas detalha algo que foi pontuado no conto de abertura do livro. Portanto, as histórias podem ser lidas de forma individual, visto que são contos, mas como os textos conversam, o mergulho no enredo é completo quando lemos a obra na sequência proposta.

Achei bastante intrigante também a escolha do autor de relacionar cada história com um dos setes pecados capitais, o que me provocou inquietação, devido a pitada de inexplicável – por falta de um termo mais acurado que englobe fé e religião, – e me fez criar diversas cenas de terror em minha mente. E acredito que a imersão na história desse vilarejo só foi possível por conta do prefácio do livro, que nos leva a crer que o autor traduziu textos de um padre do século XVI, especializado no estudo de demônios (demonologista), nos quais cada pecado capital é vinculado a um demônio específico.

A cada página eu queria saber o que vinha depois e me perguntava como Raphael Montes conseguiu criar tudo aquilo. Com um enredo bem amarrado, li o livro sem parar e percebi um certo pecado capital gritando dentro de mim por eu querer ter escrito esse livro… #medo.

Luara Batalha
Baiana com mais de 10 livros publicados em sua área, Luara Batalha é engenheira civil, mestre em engenharia de estruturas e atua com ensino e pesquisa. Sempre dedicou parte do seu tempo a expressões artísticas e desde cedo se descobriu uma leitora voraz, mergulhando em obras de diversos estilos. Apaixonada pelas letras, teve seu conto “Invasão de território” publicado na antologia Soteropolitanos e atualmente trabalha no seu primeiro romance.

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