A Jura de Juri

AÍ está Juri,
em sua chácara
no Mocambo,
sem nenhum
peso de culpa nos ombros,
como não há
nenhum lombo
de bovinos
para a canga,
nesse carro de boi
em que ele posa,
sentado no cabeçalho,
de bermuda e suspensório,
alegre e sem atalho.

E, como se déssemos
nomes aos bois
(não a esses ausentes
no carro-de-boi),
vemos que é preciso
dar ao nome Ajuricaba
o apelido oficial
de “Juri”.

Essa contração
do nome Ajuricaba
para Juri
não acaba,
como um chapéu
que acaba
na ponta de sua aba,
feito de palha de buriti,

como também não acaba
a jura secreta dele,
de fazer de sua floresta
um ambiente urbano
com ruas, risos,
residências, festas
aniversários, divinos,
e seresta
no Recanto Drinks.

II

O mesmo pau
que dá em Chico
dá em Francisco,
e, por tabela,
o mesmo pau
que dá em Ajuricaba
dá em Juri.

O nome Ajuricaba,
que vem do tupi,
parece que não cabe
no carinhoso
nome Juri.

o nome Ajuricaba,
símbolo de resistência
e liberdade,
a partir de um líder
indígena tupi,
sempre vale a pena
para quem não tem
a alma pequena,
como a de Juri.

Parece não haver
fermento
na pessoa Ajuricaba,
um fermento
que acaba com a calma
das jabuticabas,
diferente da calma
na alma
de Juri,
diga-se: Ajuricaba,

que acaba
contaminado
com a tranquilidade dele
quem com ele
tem contato.

O apelido oficial
de Ajuricaba
acaba sendo Juri,
como Ajuricaba
fosse apelido
do nome oficial, Juri.

Juri
deve ter
feito uma jura
de um criador
que faz sua criatura,
através de uma escritura,
de criar
o bairro Vila Juri.

E assim, Juri,
que não queria
ficar a ver vazios,
ainda avistou
na beira de um riacho seco
o Bico do Navio,

que está logo ali,
podendo ser visto,
sem fantasia
nem delírio,
numa esquina do tempo,
visitada por Lírio,
ali onde Juri jurou
sua roça virar avenida,
na agora Vila Juri.

Clerbet Luiz

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