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ONDAS DA CULTURA:
O devir da piracema da cultura na cidade de Barreiras
Desbravando os caminhos da cultura e do turismo em Barreiras: novas perspectivas e desafios
A rica tapeçaria cultural de Barreiras é a piracema de nossa identidade, pulsando com vida, simbolismo e tradição. A mudança é constante, como as águas que fluem, trazendo consigo novas perspectivas e oportunidades para o futuro | Foto: Osmar Ribeiro
Por Maurício Faísca
É importante pensarmos a cultura, como uma estrutura dinâmica, viva, com dimensões simbólicas, responsável por criar e recriar modos de viver e subjetividades no mundo; econômicas, pela grande capacidade de produzir riqueza; e sociais, por promover comunhão e integração entre diferentes grupos ou comunidades de forma diversificada.
Trago a piracema como metáfora, já que é, neste momento de calmaria do ambiente cultural, que as coisas se modificam de forma dinâmica e os atores da cultura migram para o “autoexílio” para repensarem suas práticas, criações e experiências. Mas por outro lado, é também neste período, que o jogo da política é jogado, enquanto um lado vive a experiência dinâmica da vida, o outro promove a verdadeira dança das cadeiras. Quem vai continuar ou dar lugar a outro gestor, quem vai ficar à frente das pastas de cultura? Mas este período já passou, e os bons ventos trouxeram, aparentemente, boas mudanças.
Uma das mudanças foi o desmembramento da cultura que não faz mais parte da pasta de educação, e agora passa a se chamar – Secretaria de Cultura e Turismo. Mesmo sabendo que o ideal é separar a Secretaria de Cultura da Secretaria de turismo, é importante pontuar o avanço. A complexidade da pasta da Educação da qual a cultura fazia parte, somado aos apêndices da sigla – SMECEL, muitas vezes, como não, quase sempre estrangulava as ações da gestão cultural. O ideal é termos secretarias separadas, para um trabalho planejado e direcionado, quem sabe um dia teremos esta coerência básica!
Mantiveram hibridizada a Cultura com o Turismo. A cultura e o turismo parecem caminhar de mãos dadas, mas em muitos aspectos são dissonantes, e o mais preocupante é o viés utilitarista e econômico, que sempre é preponderante quando se fala de cultura pela lente do turismo. Muitas cidades turísticas do país vivem este conflito. Salvador é um ótimo exemplo de uma cidade que o turismo segrega e exclui a cultura, a gestão soteropolitana insiste em empreender em festas e atividades panfletárias, lidando com as manifestações como negócio, deixando muitas vezes de fomentar e amparar a cultura nos seus diversos aspectos, para criarem estratégias e ações que focam somente no superficial e em modelos para suprir um turismo extremamente comercial e monocultural.
O direcionamento pelo viés capitalista do turismo, não contempla atividades culturais diversificadas, continuadas, nem fomento para os diferentes atores da cultura. Os moradores da cidade muitas vezes não são contemplados e não têm acesso aos bens simbólicos produzidos por esta lógica, já que tudo se torna prestação de serviço e as manifestações da cultura são reduzidas a produtos e suvenires.
Espera-se que a atual Gestora -Emília Moreno tenha cautela e cuidado para administrar estes gêmeos siameses que não se bicam nem se toleram, e podem provocar a maior confusão conceitual, política e administrativa, já que muitas vezes o recurso de um não sobra para o outro …
Outra mudança importante que provocou uma brisa de esperança, foi o retorno de Bosco Fernandes para a cena da gestão cultural, porém entre os artistas e fazedores de cultura, não existe unanimidade (nem para o bem, nem pra o mau), sobre sua performance dele na gestão em que foi Secretário de Cultura do Município de Barreiras. Contudo, sabemos que um olhar sensível de um artista, que conhece a realidade local e também sofre com o abandono histórico da gestão cultural no país e na cidade de Barreiras-BA é muito importante, e pode ser revolucionário em ações de políticas públicas para a cadeia criativa da cultura. O que se espera é que a equipe da secretaria de Cultura e turismo promova o quanto antes diálogo qualificado com os fazedores de cultura, espaços/equipamentos culturais e artistas das diferentes linguagens que atuam na cidade, para levantar as reais demandas da classe.
As águas do rio não param de descer e no Oeste elas descem com ondas fortes. As leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo vem surfando nesta onda, e a gestão necessita estar preparada para executar os recursos que serão disponibilizados para não receber onda grande na cabeça…
Espera-se que antes da falsa anestesia que as leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo vai provocar na cena cultural de Barreiras, a equipe de gestão organize efetivas políticas culturais, pois não existe nada mais catastrófico para um município do que se encher de expectativa e secar por falta de planejamento estratégico e gestão na administração cultural. A grana das leis Aldir Blanc e Paulo Gustavo, necessita no mínimo deixar um legado cultural e organizar as memórias das artes em Barreiras. Não dá mais para deixarmos no anonimato, e a própria sorte, artistas como os Grandes Randesmar Vieira, Mestre Nego, Alcyvando Luz e outros de igual importância.
O município deveria pensar em formação crítica para a classe artística, para que os mesmos consigam sair do lugar de dependência física e psicológica que historicamente toda comunidade barreirense os colocaram, principalmente os políticos e gestores. Praticantes de um clientelismo interminável e nocivo que os mantém rodando em círculo, quando não em botecos, fritando… E nem pensem em culpar os artistas da cidade. Sem perspectivas, vivem de bico para sobreviver, dispersos sem união e sem orientação de nenhuma instância. Poucos conseguem tempo para fruir e criar.
Os artistas de Barreiras são verdadeiros gênios, sobreviventes do abandono sistêmico, eles, mesmo diante de todo descaso, ainda conseguem transpirar poesia e alguns transcendem o limite da mediocridade, deixando verdadeiras marcas na história das artes do município. Percebam que todos os exploram: bares, restaurantes, pubs, instituições educacionais, sejam elas fundamental, básica, técnica ou superior; associações, empresas e empresários, sociedade civil organizada, câmara dos vereadores…Será que nossa sociedade gosta mesmo dos artistas? Sei não! Mas a principal pergunta é: quem vai amparar os artistas da cidade para ajudar a organizar pautas sólidas e estruturadas?
Prefiro parafrasear em forma de prenúncio os mestres Alcyvando Luz / Carlos Coqueijo para emprestar o grito aos artistas: “AAh, madrugada já rompeu/ Você vai me abandonar/ Eu sinto que o perdão você não mereceu/ Eu quis a ilusão Agora a dor sou eu”.
As expectativas para o segundo semestre;
1. Que de fato a construção de um Plano municipal de cultura saia do plano das ideias, precisamos urgente de políticas culturais;
2. Projetos para os espaços e equipamentos de cultura do município, como ex: Capa Rosa, Palácio das Artes e outros que estão desativados e pauta gratuita para os grupos/coletivos e artistas em atividade no Centro de Cultura Rivelino Silva de Carvalho;
3. O fim da política de balcão e clientelismo, transparência nos gastos da cultura;
4. Eventos formativos para classe artística; sensibilização cultural; educativo, para construção de hábitos culturais diversificados na comunidade Barreirense-BA;
5. Estrutura técnica para a escola de teatro e música, compra de equipamento de som e de iluminação cênica; Contratação de pessoal formado nas áreas de produção cultural, recepcionistas; Criação de cargo de coordenação para os profissionais com nível superior nas áreas de artes cênicas e música;
6. Criação de uma escola municipal de dança;
7. Projetos culturais continuados na cidade com base no fomento aos grupos e coletivos atuantes na cidade. Fazer festa definitivamente não é política cultural de um município.
a) É possível fazer atividades como a FLIB durante todo o ano, abordando as diferentes manifestações culturais e artísticas do município tendo como protagonistas e organizadores os diversos espaços culturais; grupos artísticos e artistas; já credenciados pela prefeitura.
Parece muita coisa? Mas é o básico para um município construir uma política de Estado cultural e artística pautada na diversidade. Estes 7 caminhos de muitos podem ajudar a mudar a chave das experiências sensíveis de nossos cidadãos e cidadãs. Seria um bom devir para nossa cidade.
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