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Educação

A eficácia no ofício do professor

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Imagem meramente ilustrativa | Foto: Freepik

Por Aparecido Freitas de Oliveira

Eficácia, um dos três apoios da tríade Eficácia, Eficiência e Efetividade onde diz-se que Eficaz é o sujeito que atinge o objetivo ou a meta, Eficiente é o sujeito que atinge a meta da melhor maneira possível, ou seja, com menos desperdício ou em menor tempo e Efetivo é o empreendimento que entrega o resultado pretendido e de maneira ampla ao público alvo.

Em se tratando do ofício do professor, agente principal da educação escolar, podemos dizer que é Eficaz o professor que, ao término do ato de ensino é capaz de evidenciar no aprendente a aprendizagem proposta, será ainda Eficiente se conseguir executar tal ato com os recursos possíveis em custo e quantidade e, finalmente, serão Efetivos [o conjunto dos professores] se, ao término do percurso escolar, o aluno evidenciar as competências prescritas pelo currículo.

Sendo a educação escolar um conjunto complexo de atores, se se quer tratar de qualidade no papel que cada um exerce é preciso individualizar cada um desses papéis e, antes de tudo, reconhecer o protagonismo do professor, pois, falhando ele, todo o empreendimento estará comprometido. Assim, tratar da eficácia do ato de ensinar [ofício exclusivo do professor] é tratar da viabilidade da educação escolar e, nessa esteira, da necessária individualização da incumbência de cada ator da segunda maior e mais importante instituição social: a educação.

O PROTAGONISMO DO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

Preliminarmente é necessário entender o protagonismo da educação escolar no contexto da educação geral, posto que esta é viabilizadora de todos os demais âmbitos educacionais, quer seja ele familiar, religioso, social ou voltado para o trabalho.

Assim é o papel do professor na educação escolar, que se constitui através de uma complexa interação de papéis desde a relação família x escola, origem do aluno, da intencionalidade político-social do currículo, da gestão do sistema de ensino, da gestão escolar. Noutras palavras, todo este sistema se movimenta em direção ao ato principal, ao clímax da educação escolar: o momento em que o professor ensina.

É óbvio que o ato de ensinar exige um objeto: o currículo, e um interlocutor, quem está sendo ensinado: o aluno e, consequentemente, um objetivo: que o aluno aprenda. Ficando assim evidenciados os dois binômios essenciais da educação escolar: professor x aluno e ensino x aprendizagem, nesta ordem. Posto que a ine xistência do primeiro inviabiliza o segundo e não o contrário.

Sendo, tanto o professor como o aluno, sujeitos do ato de ensino x aprendizagem é indispensável que se reconheça o papel de ambos: o professor ensina e o aluno aprende. Não se trata de acreditar que tendo sido ensinado o ato já está completo, nem de que a forma de o fazer é única ou simples. Trata-se de fixar o que é esperado de cada interveniente: o professor tem que se comprometer como ato de ensinar e o aluno obriga-se a esforçar-se por aprender.

A realidade da educação escolar, ou melhor, a “irrealidade” dela, nos tem mostrado que, apesar de todo o “rito escolar” ter sido cumprindo, a diferença entre os objetivos de aprendizagem prescritos na BNCC e o desempenho apresentado pelos egressos dos sistemas de ensino tem aumentado, evidenciando falta de efetividade na educação escolar.

Convém lembrar que a efetividade [da educação escolar] estará sempre vinculada, dependente mesmo, da eficácia das ações desenvolvidas pelos seus atores e, sendo o professor o ator principal, é a ele que, de pronto, os holofotes se movem. É a ele que se faz a pergunta obrigatória: por que o aluno não aprendeu?

Tão automática quanto a pergunta é a resposta: porque eu não tinha aluno, ou seja, porque o aluno não quis aprender. Tais perguntas e respostas evidenciam a necessidade de esclarecer o papel de cada um dos atores principais do ato principal da educação escolar: ensino x aprendizagem. E isso vai além da etimologia das palavras. É necessário, para além da etimologia, tentar dizer o que constitui e o que embota o ato de ensino aprendizagem.

O primeiro passo é que o professor entenda que não há possibilidade de “não aprendizagem”, ou seja, o aprendente tem que aprender, enquanto isso não ocorrer o ato não terminou.

O segundo passo é estar ciente de que “não há uma maneira certa de fazer”, o que há é a necessidade de ensinar algo de maneira que alguém aprenda. O mais é a liberdade-obrigação do professor na elaboração de estratégias [didática] para que o objetivo se cumprido.

O terceiro passo é reconhecer que “só se pode ensinar a quem quer aprender”, dito de outra forma, é preciso “transformar meninos em alunos” e só então entregá-los ao professor para que os ensine, pois, meninos não estão comprometidos com a aprendizagem.

Não se pretende tratar aqui de técnicas de ensino ou de gestão de relações família x escola ou professor x aluno, objetiva-se mostrar que ineficaz este ato [o de ensino x aprendizagem] todo o mais resta comprometido.

É preciso entender que há uma ordem entre executar um ato e agregar qualidade a este ato. Em se tratando de ensino x aprendizagem é impossível agregar qualidade, aperfeiçoar o ato de ensino, sem antes assegurar-se de que o aluno esteja aprendendo.

Também é preciso esclarecer que o fato de ser professor o protagonista e ator exclusivo do ato, não significa que ele esteja agindo isoladamente. Há, ou deve haver, todo um sistema agindo em função deste momento, no entanto, é dele que dependem todos.

A GESTÃO DO ATO DE ENSINO X APRENDIZAGEM

O ato maior da educação escolar, como qualquer outro empreendimento carece de um processo de gestão, ou seja, é necessário planejá-lo, executá-lo segundo o planejado e avaliar o resultado obtido. Dele fazendo uso para ratificar ou retificar a ação. A importância do ato de ensino x aprendizagem justifica a amplitude da gestão do mesmo. Assim.

Compete ao professor na gestão do ato de ensino x aprendizagem:

  • Cumprir integralmente a prescrição curricular, criticando-a, sem declinar da busca do cumprimento, quando julgá-la inadequada;
  • Comprometer-se com a escolha da técnica mais adequada ao ensino de cada objeto de ensino com os recursos de que dispuser: é preciso entender que recursos melhores potencializam o ato de ensino, no entanto. Sempre é possível ensinar;
  • Fazer uso intensivo e contínuo da avaliação, somente através dela é que se conclui o ato de ensino x aprendizagem, pois, antes dela não se sabe se o ato se completou;
  • O primeiro aspecto a ser avaliado é as “condições para a execução da aula”, no sentido de, há quem queira aprender? A organização e limpeza do espaço torna possível a aula? Se não for possível, recuse-se, é melhor recusar a executar algo do que mentir afirmando que o fez sem tê-lo feito;
  • Não se tornar um defensor de seu direito de ensinar, lembre-se de assegurar as condições para o aluno aprender.

Compete ao Coordenador Pedagógico na gestão do ato de ensino x aprendizagem:

  • Coordenar a execução da Proposta Pedagógica escolar;
  • Providenciar a organização dos espaços de aprendizagem;
  • Orientar a prática pedagógica do professor assessorando-o quando necessário;
  • Disponibilizar a oferta de materiais indispensáveis às aulas;
  • Atender, a pedido do professor, casos de dificuldade de aprendizagem;
  • Avaliar a produtividade do professor.

Compete ao Gestor Escolar na gestão do ato de ensino x aprendizagem:

  • Estabelecer uma dinâmica escolar que torne possível o cumprimento dos objetivos da instituição, dando efetividade à assertiva: “professores ensinam, quem educa é o ambiente”.;
  • Providenciar materiais e instalações indispensáveis às aulas;
  • Atender, a pedido da equipe, casos de comportamentos, de alunos e profissionais, que impactem negativamente na aprendizagem dos alunos;
  • Avaliar a produtividade da unidade de ensino;
  • Abster-se de certificar competências não existentes, ou seja, não aprovar alunos que não cumpriram os objetivos propostos;
  • Estabelecer eficiente processo de comunicação com as comunidades interna e externa sobre a dinâmica e os objetivos da instituição;
  • Tornar evidente ao aluno, ou sua família, no ato da matrícula, que ali se firma um contrato onde o aluno se obriga a esforçar-se na aprendizagem.

Compete ao Gestor do Sistema de Ensino na gestão do ato de ensino x aprendizagem:

  • Prescrever, viabilizar e fiscalizar a execução do currículo escolar, pois de em nada resultará as ações se estiverem carentes de um objetivo claro e coerente;
  • Fiscalizar a execução do currículo.

É necessário entender que o protagonista, salvo no monólogo, o que não é o caso da educação escolar, não atua sozinho na peça. O professor é sim o protagonista da educação escolar e, neste sentido, tudo, ou seja, se a educação vai ou não atender seu objetivo geral [efetividade], vai depender sempre da eficácia dele no ato de ensinar.

No entanto, não há professor que “funcione” sozinho; Gestores, Coordenador, pessoal de apoio deve se empenhar na criação de condições para que isso aconteça, inclusive, com apoio da família para “transformar meninos e alunos”, pois somente estes estarão dispostos a aprender.

Barreiras, 18 de janeiro de 2023.

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